quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Quando o pescoço estala as estrelas

Minhas mãos e manhas azuis
Coladas ao peito
Em que cresce uma Lua redonda,
Frágeis vítimas de segundos
Terceiros
Em quartas
Intenções.

São devaneios intensos
Desses que despertam suor no meio da noite
E no inteiro do dia.
Uns tanto quanto nós
Difusos
E trêmulos
- os gemidos acusam o calor
Já que o inverno acabou.

Esse silêncio sufoca
E as mãos sobem
Sem saber como degraus funcionam.
O alívio espera na ponta da língua
estrangeira
...
Sendo o convite um chamado
O telefone vibra
ante a madrugada:
Acorda de um sonho
E não se atende -
Assim continua a tocar.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A Fênix que amava o fogo

Sempre que o fim se aproxima
de cortinas fechadas e música final
uma parte de mim morre.

O bom de morrer é renascer.
Não importa quantas lagrimas e abraços cortem
as margens do meu límpido rio
a chuva volta
e o fogo se atem.

O amargo que o remédio deixa na boca
é aquela dose única de veneno
que não é suficiente para matar, apenas levar ao mundo dos mortos
tal como ele disse.

E o meu coração volta para seu berço branco
Branco como o ano que vem começar
e opaco
como uma metáfora futura
pelos olhos de um cão.

...

Que as noites descansem
nos meus olhos escuros
enquanto fechados
Na claridade de um dia que nasce
Raios de Sol e riscos de mar.

Ele disse que tudo acabaria bem
E eu bem sabia que era mais uma despedida
Sórdida
Do amor que fez-me vida.
Agora tinha de ser morte
A frieza necessária
Para que o calor tenha sentido.

Guardou-me na cartola e riu.
Riu das pérolas manchadas
E de meus dentes trêmulos,
De cada memoria boa compartilhada
E não soube chorar.

...

Vidas e mortes em Preto e Branco
Como filmes antigos
Listram-me
Torno-me piano
Em dedos dourados
Que açoitam as dores.

Muitos versos
E verões repentinos
Sem pretensão.

Todo final de estória é meio de história
E início
De poema.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Encosto: dedos nas costas

O que essas visões tendem a ser
Além de uma invocação da mente,
Retorno de espíritos
Com correntes nos pés -
E soam alto
Arrastam-se pelas vértebras da coluna
Até a espinha picar
Em arrepio.

Assombrações passam a existir
Dentro de todo quarto fechado com chave
Livre para se ver vultos,
Voltas
E revoltas.

Como pode ser fantasma
Se nunca morreu?
Se nunca viveu?
...
As paredes se dissovem
São atravessadas
Para perseguir
E não seguir.

Se a vela ousar ser acesa
A chama devorará quem segura o fósforo,
Quem clamou chamas de fogo debaixo da banheira :
É afogado
em
fagulhas.

domingo, 20 de novembro de 2016

A Ceia

Se o oráculo e a bola de cristal não mentiram
Antes que o ano acabe, acabo.
E a dor toma meu peito
Alastra do lado do coração
E transforma cada riso em lamentação.

Parece uma poesia triste
Daquelas de madrugada cheias de trabalho para fazer
E entupidas de café.
Mas já deveria saber
Que não bebo café.

O fim de ano sempre foi uma alegria imensurável
Uma gramática perfeita
Em que a correria pode sim
Agradar ao ansioso.
E com ela essas dores
Sentimentos de que cada noite é mais próxima da outra
E mais gritantes da minha.

Cada pôr do Sol promete uma nova Lua
A maior de todas
Que sangra no escuro das estrelas,
E até que ela cresce
Como uma bexiga de aniversário
Prestes
A
Estourar.

Quero os doces que caem sobre meus pés
Come-Los antes que virem ontem
Lamber os dedos
E limpa-los na roupa
Que vai para o chão
Ser desp(ed)ida.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Abracadabra

Engraçado como o meu equilíbrio soube dividir as pernas
Em uma haste de circo
Bombeiro
Ou strip
Com a gravidade.

Já fui aluna de malabarista, equilibrista de meio fio
Domadores de leão,
Mas
Fui para dentro da cartola
Fingida de coelhinha da Playboy
Revelada em mágica.
Se enquanto os lábios se movem não presta atenção
Nem nestes nem nos olhos,
O truque atravessa os seus.

Já cerrei gente no meio
- e não fiz voltar -
Tranquei-me em caixa de vidro transbordando lágrimas,
Tirei as cartas da manga
E desapareci
Fui parar no picadeiro
Onde nenhum problema poderia me achar.

Diante de uma plateia com fedor de pipoca
Criei o pior tipo de cenário
Fechado às chaves da verdade:
2016 espelhos e nenhum reflexo.
Eu já não tenho sombra ou corpo
Não sou mais uma mágica
Tornei-me magia.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Ouro roubado

Hoje juntei as peças dadas
Sonhos retorcidos em noites quentes.
A etimologia
Que tranforma um homem em cavalo
E eu em carruagem
Dourada.

Mudei os canais
E não sabia aonde parar.
O que os riscos dizem
Sobre o que é escrito
O assunto
O remetente
É uma carta que se perdeu no correio,
Entre tantos selos
E correspondências
Correspondidos.

Talvez eu fosse uma carruagem que entrega uma carta
E não uma princesa ao baile.
Talvez o Dourado do meu ferro combine
Com o cobreado alado.
Ou quem sabe o reflexo da Lua no vidro seja real
E minha transformação nas noites seja a fuga
A dor no peito como metal que se alastra
E corre
Percorendo o que bem sabe querer.

Eu sonhei que me tranformava em uma carruagem.
E era capaz de sentir o corpo mudando
Crescendo
Como talvez seja.
Eu sonhei com um homem que se tranformava em cavalo.

Quando os olhos repousam fechados
No ombro ou sono,
O lençol venta meus pés.
A ferradura pesa o piso
E tudo que já foi feroz
Finge-se de manso
Em tom de morno
Nas noites mais quentes
Até então.

A greve
Tal como o correio
Espera mudanças.
E as mudanças
Ah, esperam a noite
Para tornarem-se mais uma vez
Vítimas de Cinderela.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Avidez

Leio essas mãos nas minhas,
Linhas tortas
Tortas doces.
Calos que não se calam
E cicatrizes atrizes,
Mentiras tomadas pelo corte
Sem sorte -
De trabalhos manuais
Em que o manual
Não é aberto,
Mas a boca sim
E diz 
"Sim"


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Entre os dedos

O isqueiro falha
Mas ainda ascende ao cigarro
Posto à boca
Como antigas promessas
E ainda presentes pensamentos.

Aquela música toca
E o controle ameaça com toda força sumir
Entre memórias estarrecedoras.

Um maço não é suficiente para a confissão
Ou cessar o fogo que a fumaça rodeia.
E os pulmões
Que tanto se enchiam de orgulho
Cedem à respiração de desespero
Em manter-se eterna.

Às cinzas volta-se
Na espera das cores
Que desbotaram.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Segredos que fugiram da estante

A força que uma palavra tem
Segredo.
Diferente dos de pacto
Aqueles que transitam no olhar de dois
Na vista de que eu sei
E você também
E somente nós.
Esse ja não é mais.
É  na solidão.

O segredo que é somente meu
Jamais permitirá ser seu.
É um corpo que não divide espaço com outro
É um assassinato
E o morto não tem voz para clamar.

O que não se permite dividir
O que rói o fígado
Em regeneração
É o que a boca não entrega em beijo
E as mãos não escrevem em toque.

É o infinito
Pois pode ser qualquer coisa
Assim sendo
Tudo
Menos seu
Menos sua.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Praia dos ciganos

Aqui acima as luzes piscam
E a oscilação é alerta,
Recado que já foi jogado no mar
E Salgado entre os olhos de quem se afoga.

O que o médico diz
De sonhos perversos
Em contos infantis?
O balanço vem e vai
Como a maré
O a.mar que derruba quem sabe nada.r.

O passar das noites distintas
Cheia à nova
Em fotografias que já começam a desbotar
E perder o tom de conchas
Ou misticidade de ser areia.

As águas que afagam são as mesmas a tirar o sangue das mãos
E transpor a inocência de volta aos imaculados.
Que a maré derrame a semana
E banhe devagar os pés
Para saberem em que terra pisam.

As pérolas esperam sua vez
E suspiram aos pescoços que se molham
Como se soubessem
Que cada gota ali
É lágrima curada
Em oferendas sinceras.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Entardecer

Os pneus parecem saber
De cada acorde e vibração
Transcorrida das cordas da madeiras
Às vocais.
Cheias de vogais
Os chamamentos vêem
Cegos em noite de artificios:
Fogos e pessoas.

Toda mulher muda há de gritar
E tornar-se flor.
As lágrimas regam
E rezam todas as ave marias do terço
Que uma terça feira poderá trazer.

Então
Entre cadeiras a cadeia termina,
A dança de São João
Que um corre atrás de outro que corre atrás de outro que corre
Que corre.

A primeira aparição dos santos nas linhas
Não é teor d'dízimo
É milagre esperando saber
Da ciência.

A flor continuará azul
Quando souber que já é fruto?

...

Voltamos à viagem
E os pneus sonhados de cavalos galopando a estrada.
Os golpes que o corpo leva
Entre lombadas e vice presidentes
Doura-o
Como estátua
Ou medalha frente ao peito.
.
Vinde as graças aos que apanham e morrem de amor
Aos que fazem de seus dizeres Pátria
E cantam como hino
As juras de nunca-mais.

As flores até o último dos dias
Em cemitério
Na primeira das noites.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Olhos em luz

Não se iluda
O alaranjado que ilumina a noite
Não a tornará dia.
A escuridão esconde muito segredos
E dívidas ainda não pagas.

Todo pôr do Sol é um fechar de olhos
Para se abrir a boca
E falar o que a luz não alcança
Com a aceitação de vias ainda mais desconhecidas.

...

O que apetece é adubo
Em terra muito fértil
Ainda não regada.
Se os botões das Rosas azuis pudessem falar
De mansinho vingariam todos os jogos de sorte e azar que já passaram
Bem me quer
Mal me quer
Arrancaram elas partes de nós.
Seriam elas as responsáveis por cada morte interior
E não quem optamos por.

Abra os olhos
Enquanto for dia e puder sentir o calor do Sol cegar-lhe
Pois quando o frio chegar
Depois das seis da tarde,
Ah
Saberá que luz buscar
E aonde arrancar uma flor
Para que floresça outra das cinzas
De malditos girassóis
E amores antigos.
As formas destes são esquecidas
Porque a noite não permite muito ser visto,
Assim
Antes de dormir
Feche os olhos
E ascenda-me.

Os fósforos acabaram
E o fogo insiste na lareira.


sábado, 13 de agosto de 2016

Final de festa

Sequência repetida,  nunca notada
Noite de vinda e sono
Desespero entre os cantos fazem de todo homem
Um copo de whisky.

A quem cuidará
Dos passos sozinhos,
A sorte de não tropeçar em si.
Pois nem toda caminhada
Ou domingo
É sinônimo de tristeza.

Azul tine
Entre o céu escuro da noite
Mesclado ao céu como os cabelos.
A lua ergue-se novamente
Cheia de luz e renovação,
Acima de todos os olhos,  vivos ou viúvos.
...
Esta é a religião
O inegável satélite transformador,
A perfeição de mil poemas
Que jamais poderão vingar-se
De nunca poderem estar a sós com ela.

domingo, 7 de agosto de 2016

Casto na varanda da espera

Encostado nestes ombros
vão
as memórias enxurradas de si,
as vítimas do legado
do drama
na cama.
Ali desconcerta-se
só, em uma imensidão,
antes de cair
do penhasco mais alto
e adormecer impune.

Na rota de toda derrota há
dúzias de flores perdendo as pétalas
para a tempestade revestida de brisa.
Toda rosa sonha em deixar de ser buquê
e tornar-se fruto
a ser mordido.

O devorado é implorar-se a deixar o egoísmo,
abandonar a custódia de si
e calar-se na maior das implosões:
O grito abafado de morte,
Suicídio de passado
em novas cicatrizes.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Meados de mim

Debaixo do cobertor,  sozinhos
Os pés frios tentam se aquecer com meias
Meias palavras,  Meias verdades
São apenas metade.

Todos os ventos gélidos são conspiração
Quebras de inteiros nos interiores:
Sentimentos antes precisos desbotam
Como as flores jamais ganhadas.

O destino prepara sua dose em poção
Que destila tudo que um ano já pôde ser,
em todas as rimas que se imploram para vir
Assim como um futuro disfarçado de presente.

domingo, 26 de junho de 2016

Até onde meu italiano permite

O vermelho que escorre deste sangue
em magia, promessa
é destilado
e posto à boca
com todos os dedos segurando a taça.

Escorre os lábios antes de descer o corpo
queimando como fogo de mesma cor.
Escuridão em recente madrugada
noite póstuma das qualidades de um guerreiro,
a coragem que não necessita de espada para rasgar-se
e debruçar-se em infinito contentamento.

Todos os contos de fadas harmoniosos
vigentes e fiéis a um final
de acolhimento terno, assim antes
dos anos contarem
e permitirem-se.

Quando as palavras não bastam
em surpresa
como as festas de rei,
o sangue já dito torna-se tinta
dos ossos escritos de dentro para fora,
das exclamações
e linhas que
vão
se
acabando
e
descosturando
o que uma vez foi tido:
vestido.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Noite adentro

Um corpo que dança não pode explicar seus movimentos.
Um corpo que grita
e chove
não consegue deixar de ensurdecer
e molhar-se.

Toda gota vem do mesmo céu
em cima de um único corpo,
o mesmo que treme
todas as vezes que ameaçado
sem ataque.

Essa matéria
de estudo,
corpo humano,
venera um futuro.
Todo futuro há de se tornar presente
E o aniversário está próximo.
O que melhor presentear um corpo com
outro
?

domingo, 12 de junho de 2016

O dia mais longo de minha existência

Antecipação
Dúzias de rosas fictícias espalhadas pelo chão de madeira do quarto
Todas azuis.
A cortina amarela ilumina a meio fio
Do que pode ser a luz da lua ou da rua.
Faz frio
Um frio que faz parecer que jamais vivi o inverno
E talvez não tenha mesmo.
As datas somente se repetem
E o verão some aos poucos
Das marcas das costas
E do olhar.
Foi um dia lindo
Desses que o Sol não esquenta,
Mas é suficiente.
Foi uma tarde estranha:
Sonolenta e enjoativa de amores alheios. É noite...
E tudo que a escuridão não mostra,  desmorona rasgando os pulmões.
A respiração falhou.
De que adianta gritar?
As flores ouvem os sussurros
E é isto que importa.
Como pode um mês antecedendo-me dilacerar assim? 
...
Depois de um súbito fechar de olhos
Afoguei-me na chuva que não caiu
Ainda.

terça-feira, 7 de junho de 2016

O inverno nem começou ainda

Meu corpo ainda é primavera
Adornado com flores
embebedadas de mel.

Mas
O vento já bate
e eu apanho.

...

Revido
pois o inverno combina bem com minhas pétalas azuis.

(e as abelhas também, se não ficarem a zanzar )

terça-feira, 31 de maio de 2016

Unidade

Mais um dia primeiro
E os números seguem
Como se fossem o primeiro.
Primeiramente,  desculpe me pela repetição
É que minhas pétalas dançam hoje
Em volta da fogueira que acendeste.

Cada vela nova que torna-se fogo é diferente
É banho que não pode ser repetido em mesmo rio
Ou ceu da boca em riso.

Desde a primeira flama
Não ouve cessar
Não se ouve falar
Todos os tons que o meu azul revelou em flor.

Eu sou uma constelação
Que almeja a chuva de meteoros
Por mais duros que sejam ao colidir.
Basta um toque
Que as estrelas brilham em gritos
Doentes de astros
E amanheceres.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ninho

Um relampejo vermelho no céu anterior à chuva
E eu me faço pensar nas cores
No arco íris que brilha de noite
E no sangue que ferve.

Os asas de pássaros oferecem acolhimento
E esta é a palavra do dia,
De um banho de espuma
E uma vela acesa.

...

Os olhos conseguem descansar em calmaria
Sem que a água do mar afogue
Mas ainda assim deixe molhada.
Ondas vem e vão
Sempre desfazem-se na praia,
Areia de marinheiros em despedida.

Antes de quaisquer questionamento
Em uma madrugada
Não tão fria quanto as outras
Um pacto foi feito.
Sem mais arrependimentos,  juramos nós duas
E assim devemos seguir,
Assim nos cobramos de nossas palavras
Até quando outras juras sobreponham-se
...
Pois este é o único compromisso que realmente há
O com a vida.
Há vida.
A vinda.

domingo, 8 de maio de 2016

A perturbação

Todos os viciados são a sarjeta.
Eu me vejo presa
Dependente da Química
Dos comprimidos e dos braços. 
Nem sempre respiro quando presa neles. 

O rasgo em mim
Como qualquer tecido de chão,
Deslumbra flores azuis.
A dor de senti-las respirando
Crescendo e alastrando o peito é constante
E permeia mesmo ao dormir.

Esses sonhos decidem o que há de acontecer.
O pêndulo varia entre o céu e a garganta
Mas,
todos os rascunhos da noite querem ser coloridos
E construídos. 


quarta-feira, 4 de maio de 2016

Sereno

Abro mão da saúde
Dos assobios frívolos pela garganta
E a certeza de um cobertor.
O quente está em contraste
Na frieza da madrugada
Como as estrelas desaparecendo com o chegar da manhã.

Abra a mão da saudade
Dos rodopios dignos pela varanda
E a destreza de um conhecedor.
A quem te vá em desgaste
Na beleza da inventada
Come as estradas desmerecendo com o chamar de amanhã.

Grave bem os dizeres
Por todo o tempo que adoeço
Para curar uma memória perfeita.

As estrelas choraram
E nem sabem o porquê.
Mas suas lágrimas regaram o chão
Que queriam brilhar mais que o céu.

Suas lágrimas resgataram o chão
Que queriam brilhar mais que o teu véu.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Pressentimento

Pré sentimento
Ansiedade em sentir antes de viver.
Uma luz Branca se alastra no peito,
Nenhum de nós pode prever o futuro
Mas o passado se repete
E deve assim ser.

O desejo é pleno e escaldante sob o calor do sol
Todas as noites.
Corridas ou não,  estas viram números
Uma contagem regressiva sem data
Para a próxima das vindas.

Os olhos compartilham das mesmas lembranças
E,  os que aqui escrevem sofrem,
Gritam por misericórdia
Sem saber o que fazer
Quando os miram.
Palavras se afogam e o corpo entrega
Rende-se no olhar
Sem que a boca se abra,  porque,
Se abrir,  Não será.

Que os violinos ricocheteiem alto
E todas as vidraças tenham a chance de ser partidas.
Os castanhos devoram
E todas as outras cores escondem-se:
É escuridão,
Fiel aos segredos como às sombras.

O relógio bate
Interrompe o sono,
Impossibilita o descanso.
Pensamentos vingam os conselhos
Nas diversas formas que as penas de ganso permitem pensar.

Perguntou onde estavam as perguntas.
Não teve resposta
E esta era a questão.


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Dose única

E no fundo do meu francês
Há um Boêmio revestido de gritos,
Uma ópera interna.

O coro age junto
Esquenta e ferve o sangue nos tenores.
O sorriso firma a boca aberta
De olhos maravilhados mesmo na escuridão,
Movimentos circulares em espaço limitado
E a visualização prepara ainda mais o estômago
Pois o fio de bater de asas não reside la:
E sim em toda alma fria no verão
Inacabado.

domingo, 20 de março de 2016

As estações de uma pequena flor azul

Na ultima tarde de verão
Sol escaldante e suor inevitável
eram acompanhados de uma leitura densa,
inescapável.

O ultimo gole gelado
Antes da estrada derramar-se
e tornar-me concreto.
As páginas engoliam-se apressadas entre os dentes
dentre as confissões
e pontos finais.

Naquele tênue instante foi então que os minutos tornaram-se horas.
O relógio ja apitava
o despertar da vinda do equinócio,
equilíbrio em luz.

Fora a ultima tarde de verão
e eu ja havia escrito que o verão sempre tem fim.
A queda das folhas entristece a tinta
e amedronta todo e qualquer fruto maduro
a ponto de cair
ou ser mordido.

terça-feira, 8 de março de 2016

Fibra

Aceita essa flor e esboça um sorriso no rosto, mulher
Comemora teu dia
Veste Rosa com orgulho
E bate no peito hoje.

Vai,  mulher
Esquece que vive de migalha e morde o chocolate
Contorna bem o olho e hoje
Ah, hoje
Disfarça o olho inchado
De surra e choro.

Não seja mal agradecida,  mulher
Agradece o estranho que a parabeniza
Pelo teu dia.

Ria das piadas com gênero
Da submissão.
Não sê assim,  Não.
Ai,  mulher
Como és tola de ter medo da noite
Escuro não machuca ninguém
E a sombra que a segue também não.

Mulher,  deixa de frescura
Não complica a vida
Pare de agir sem coração
E fazer melodrama.
...

Mantém a Rosa no Jardim aniversariante
E Guarda a saliva pra gastar em algo melhor
Pra gritar Socorro
Pra reclamar direito
Pra beber e beijar
Pra ter a liberdade que um homem tem.
Nascer mulher é nascer para sofrer
e tornar-se mulher, de mesma ou pior dor.

Mas nós iluminamos os dias, não é?
Somos a beleza dos olhos
e a delicadeza dos dias.
Que orgulho
poder dizer que hoje eu sobrevivi a mais um dia como mulher.
.
é para se parabenizar mesmo.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Mesa de jogo

Tabuleiro e peões
desses que as fichas invalidam entre os dedos e,
estes,
desbotam flores.

Discurso indireto.
demais adjetivos antes dos verbos.
Enrola-se um substantivo entre os dedos
e o aponta contra a cabeça:
Roleta russa não é sinonimo de praticidade
nem aqui.

As regras, as fugas, o cronômetro.
Os blefes;
Os jogos sujos e marcados.
Discurso de ódio.
palavras de repúdio.
é forma sem direção, 
entretenimento sem plateia.

Não serei eu hipócrita
em criticar a enrolação e fazer o mesmo.
...
Simples e direto
é(s) um jogo de azar
e sou uma pessima perdedora.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Morcegos de chuva

Um acesso de delírio repentino.

Uma força percorre a terra sedenta.
Não é mais tempo de metáforas, são insuficientes.

As letras escapam
como o controle.
Um relampejo de vôo faz o corpo e a alma transitar
entre tempos e memórias,
Um viagem no tempo.
...
É capaz de acreditar nesse tipo de magia?

Vindo de um sopro e texturas
de notas repetidas na música, de mesma intensidade.
São nesses declínios de vivência que
por ser desatenta ou fraca
a razão cede.
sede.

Os sons são abafados pela ausência de pudor.
As madrugadas gritam alto, bem como as lembranças.
Talvez então os agudos possam ser relevados:
Vamos cultivar vogais
e cortar na luz do dia
tudo que não interessar à noite.
Camuflemo-nos em constelações
para invejar a Lua
e cegar o Sol.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O que o diário não quer cuspir

Os deuses gritam pelos céus
Os raios e relâmpagos acordam os olhos caídos
E ascendem aos abertos.

Como se a estrada não soubesse de seu fim,
Continua tortuosa
Molhada em lágrimas e prazeres.
O meu violino corta o ar
As rimas
E os lábios de quem se determina em negar.

Muitas foram as palavras mortas
E nunca mais pronunciadas quando mais requeridas,
Nos suspiros de onomatopeias
Secos da chuva.
As palavras foram aposentadas
Pois perderam seu valor em um verão tão escaldante,
Não foram capazes
E a incapacidade leva a essa quebra de promessas:
Eu jurei nunca mais escrever em primeira pessoa
Jurei que as linhas saberiam de quem são,
Mas não basta.

Não bastante,  Jurei mais
Jurei ao único quem não deveria: eu.
Torturei-me em lençóis
Em pesadelos
De inúmeras ovelhas saltitando
Para voltar a calmaria - que não quero.
/
E tu,  leitor
Realmente sabes o que fazes aqui?
Lendo os pensamentos e devaneios de uma flor perdida
Uma Rosa azul à espera de uma entrega.
Ah,  leitor
Se soubesses como é relevante
Sendo ou não alvo dos pensamentos,
Dizendo ser Verde minhas folhas
Ou azuis.

Diante das situações,
Do desespero e do suicídio
Eu deveria saber
Que quando a carta está escrita
Com o adeus
É preciso se jogar
E saber da profundidade das águas.
...
Não,  Não é a morte
É o que a faz esquecer.
Mas tu,  oh leitor
Já deverias saber
Que quando a escrita é longa e comparativa
Já é tarde demais.
Eu já deveria saber
Que quando assumo eu lírico
E faço declarações
Já é noite demais
E eu tenho medo da Luz da madrugada.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Colheita

Não querer perder o que não se tem
ou não ser perdida
quando nunca foi achada.

O fim torna a parecer receio
porque, os novos temores deixaram de ser futuro
agora apenas são aguardo.

Sempre disse que saberia quando encontrasse o que procurava
/preocupava.
O tempo é uma questão
que todos queremos responder
e perdemo-nos nele
em caracóis
mas não amigos.

São tantas linhas sobre achar e perder
tantas palavras vítimas que não conseguem depor,
filtram-se em si mesmas.
Sem hierarquia
o que se herda, de vidas passadas
é o consentimento
próprio.

Os rifs coordenam o corpo
invadindo-o
como onda de areia em tempestade noturna.

Gostava das palavras sóbrias
alinhadas e pensadas.
Não as tinha mais e, talvez,
nem mais o controle.
A fuga é a busca de toda uma vida
o esquecimento da sombra
na cegueira da lua
- porque, afinal
a luz do dia não engrandece as madrugadas.

Vinde,
em tempo certo e inocente.
As asas estão prontas:
cera e penas, como as de Ícaro,
Extremas ao chão
como ao céu
da boca.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Constância

Ainda restam em mim alguns espasmos
detalhes que acordam no meio da noite
e perduram na madrugada.

O silêncio e verde das árvores em meio ao concreto
que não previa
em vidas ou tempos passados
que uma caminhada responderia por tanto.

Virou uma metáfora
e alvo dos próprios receios.
Virou eu lírico falando de si
na terceira pessoa.

Direto à direita
mesmo sem saber qual dos lados eram.

O espelho ainda concordava
que era uma só pessoa, por hora.
A língua travada em vozes esquecidas
é tudo
que a memória fotográfica não consegue ser.

Quando os pés param
e a garganta seca,
o corpo pode temer o desmaio
antes mesmo de maio
ou o próximo dia dez.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Estalo em madeira florestal

Sob instintos
verdes na selva
um animal rodeia o outro
com um olhar certeiro
e lábios de fome.

Os sons ao redor permaneceram estáticos
remanescentes de qualquer que fosse a voz.
A noite despertou depois de muitas lágrimas
e outras que se passaram.

Voltara em relâmpago
raio que tende a cair duas vezes no mesmo lugar.
Os trovões se estendem pela pele
Vagando entre as luzes da janela.

Hoje as paredes estão confusas, 
Desconhecem o vigor e o rubro das maçãs.
Tendentes a sonhar com açúcar
Esquecem o troco quando mordem o doce.

Detalhes configurados ao esquecimento permanecem vivos e dourados.
Os poetas não sabem ser quando realizados,
Perdem a essência...
Mas
Ainda são flor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O calor que derrete o Sol

Pouco tempo
tanto ao norte como ao Sul.
Um desenho que se torna colorido em meio a dedos trêmulos
em uma noite de fogo.

Um desespero enorme desabrigou minha alma
tirou-a do peito
que realmente doía,
desesperado por amparo.
As palavras desconhecidas longe
eram as que conhecia,
não porque as tomava para si
mas porque são da mesma água
lá, mar
aqui, rio.

De toda a dor que desenterrou a saúde,
a temperatura subia novamente
sem febre.
Um pensamento atravessava os olhos:
visões e resquícios de lembranças.
Detalhes precisos no papel
que a chuva não molhou,
mas ainda assim adoeceu
gritante
entre os dentes
juntos com os fios dourados,
desbotados ainda de noites passadas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A-guardado

De todas as formas
Em comparações e metáforas
O hiato tem fim.

As performances engolem livros 
mas a plateia é de silêncio.

A escrita toma sua forma novamente bêbada de coragem, 
Mesmo doente
- Mas,  uma estrofe por vez -

O ponteiro gira terno e desatento até encontrar a nova hora que há muito aguardava
Quase como Cinderela
Mas é depois do bater das 12 horas que a noite cobre o céu
Encobre
Em cobre.