quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Olhos em luz

Não se iluda
O alaranjado que ilumina a noite
Não a tornará dia.
A escuridão esconde muito segredos
E dívidas ainda não pagas.

Todo pôr do Sol é um fechar de olhos
Para se abrir a boca
E falar o que a luz não alcança
Com a aceitação de vias ainda mais desconhecidas.

...

O que apetece é adubo
Em terra muito fértil
Ainda não regada.
Se os botões das Rosas azuis pudessem falar
De mansinho vingariam todos os jogos de sorte e azar que já passaram
Bem me quer
Mal me quer
Arrancaram elas partes de nós.
Seriam elas as responsáveis por cada morte interior
E não quem optamos por.

Abra os olhos
Enquanto for dia e puder sentir o calor do Sol cegar-lhe
Pois quando o frio chegar
Depois das seis da tarde,
Ah
Saberá que luz buscar
E aonde arrancar uma flor
Para que floresça outra das cinzas
De malditos girassóis
E amores antigos.
As formas destes são esquecidas
Porque a noite não permite muito ser visto,
Assim
Antes de dormir
Feche os olhos
E ascenda-me.

Os fósforos acabaram
E o fogo insiste na lareira.


sábado, 13 de agosto de 2016

Final de festa

Sequência repetida,  nunca notada
Noite de vinda e sono
Desespero entre os cantos fazem de todo homem
Um copo de whisky.

A quem cuidará
Dos passos sozinhos,
A sorte de não tropeçar em si.
Pois nem toda caminhada
Ou domingo
É sinônimo de tristeza.

Azul tine
Entre o céu escuro da noite
Mesclado ao céu como os cabelos.
A lua ergue-se novamente
Cheia de luz e renovação,
Acima de todos os olhos,  vivos ou viúvos.
...
Esta é a religião
O inegável satélite transformador,
A perfeição de mil poemas
Que jamais poderão vingar-se
De nunca poderem estar a sós com ela.

domingo, 7 de agosto de 2016

Casto na varanda da espera

Encostado nestes ombros
vão
as memórias enxurradas de si,
as vítimas do legado
do drama
na cama.
Ali desconcerta-se
só, em uma imensidão,
antes de cair
do penhasco mais alto
e adormecer impune.

Na rota de toda derrota há
dúzias de flores perdendo as pétalas
para a tempestade revestida de brisa.
Toda rosa sonha em deixar de ser buquê
e tornar-se fruto
a ser mordido.

O devorado é implorar-se a deixar o egoísmo,
abandonar a custódia de si
e calar-se na maior das implosões:
O grito abafado de morte,
Suicídio de passado
em novas cicatrizes.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Meados de mim

Debaixo do cobertor,  sozinhos
Os pés frios tentam se aquecer com meias
Meias palavras,  Meias verdades
São apenas metade.

Todos os ventos gélidos são conspiração
Quebras de inteiros nos interiores:
Sentimentos antes precisos desbotam
Como as flores jamais ganhadas.

O destino prepara sua dose em poção
Que destila tudo que um ano já pôde ser,
em todas as rimas que se imploram para vir
Assim como um futuro disfarçado de presente.