quarta-feira, 31 de maio de 2017

Inflamável

Você acha isso certo?
Citar Dante ante meu nome
E em meio a seu inferno lembrar que o fogo queima
De dentro pra fora?

Se soubesse que o fogo arde não só a alma
Que todo sopro em meio a cinzas
É brasa bordando segredos,
Seria rei
De um fogaréu azul
E lábios vermelhos.

O inverno e eu renasceremos,
Em breve todo o frio será mantido
Para que o calor possa existir.
A chama se ergue
E chama
E dança em torno
De tudo
Que 
A
Faz
Queimar.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Anatomia de uma meditação

Todo ar que entra vinculado
Em perfume
Respira e gira a cabeça
Para longe de si.

São camadas de luz
Cores que todos os lápises desistiram de reproduzir:
Noite queimada em laranja,
Escuro morto em luar.

O ar que sai
Desesperado
Entre um fôlego desprendido do corpo,
De experiência extrassensorial
De vidas presentes
Implorando futuro
É cristalino
Como o globo da vidente que insiste em nada contar.

Os ossos estralam
Estrelas
Entre as tristezas trêmulas
Da Palma da mão.
...
Coração que sai pela boca
De certeza no infarto
Sabe de seus batimentos
E todas as batidas
Em outros
E bebidas, afogadas entre músicas iguais.

Inspira o ar
Inspira ação
Inspiração
Piração.
Pois se todo escritor tem pouco de escrita,
Todo médico há de ter pouco do louco.
Louvado seja
Aqueles que não morrem na falta de ar.te.

Traz-me pra uma saudade tão grande que não cabe em metáfora que não cabe em sentença nem em linha mas não liga pra linha porque linha é fio é frio é memória que se aquece debaixo do meu cobertor que não sabe que é feito de linha só sabe que é feito de saudade.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Atenda

Hoje encontrei uma premonição do passado.
Dos tantos desencontros diários,
Ante aos encontros previamente sabidos,
Surgiu em minha frente
Tal como uma cartomante pedindo pagamento
De rosto igualmente aceso
Levemente envelhecido
- assim como tudo que em mim habita.

As luzes direcionavam-me
Mais forte que qualquer metáfora para gente devagar.
Meus olhos viam àqueles
Tão pequenos e florestais de aquarela
Que não enxergaram que já eram conhecidos.

Não tive coragem de arriscar
Então perguntei seu nome.
Respondeu
E o ditongo amorteceu-me
Posto meus olhos ascenderem
E o sorisso tomar conta
Das dívidas.

- Eu conheço você.

Mas ele não se lembrava de mim
Estranho seria se lembrasse,
Pois talvez nem existisse
E fosse visão
De gente míope.

- Acho que to me lembrando de você...

Fui retirada.
Rindo as atmosferas do meu azul não acreditavam
E nunca acreditaram
Em coincidências,
Em data tão distinta
Trazer destino personificado invés da morte.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Desabafo de dores antigas

Eu tenho medo.
De um passado brincar de presente
De um título
Um assunto jurado nunca mais virar motivo para uma palavra sequer
Virar poesia.
Poesia ruim
Virada na panela com pouco sal.
É uma escol(h)a
Já indicada na terapia citada
De confrontar o perigo
Para vence-lo:
Pena que esse jogo não tem regras
E sou boa em perder.
Não pularei linhas
Nem as de expressão
Das lágrimas e sorrisos que causou,
Da loucura que criou em minha mente.
Quando falam de loucura a poesia é breve, simbólica
Mas uns versos feitos assim
Em tom de suspiro antes de abrir a porta
De auto aprovação
Fala de loucura real
De remédio e internação
De rasgo jamais tido em papel
-bem escrito demais-
Pele e parede.
Eu ainda tenho medo
Mas maior certeza de estar pronta
De melhor enfrentar sabendo do desafio
Do que levar um tapa não esperado.
O tempo passou e muita coisa mudou,
Tornei-me mais eu
E menos do que criei ser.
O mal criado fez bem
Mesmo depois de saber que esse existia e este era falso,
Fez bem e fez parte
Mas não é todo
-não mais.


Assinado com firmeza e certeza de que qualquer espelho confirmaria autoria.