terça-feira, 2 de janeiro de 2024

mentira

Passei por algumas situações recentemente que não pareciam verdade, seja pelo teor de aleatoriedade quanto de absurdo. Olhei as mãos, conferi se era real - custava acreditar. Como cheguei àqueles cenários? O que regia meus pés?

Então me levantei e sentei novamente e repeti como se fosse um jogo, como se alguma criança gritasse ao lado. Tudo que há é o murmúrio e comentários dos adultos, fascinados por músicas clichês ou o sofrimento alheio. Há algo fetichista na curiosidade dos detalhes, nos comentários perversos de quem não entende e quem condena - mesmo quando não há mais depois. São pontos finais, e aqui volto para mim.

Poucas horas antes eu estava reclamando de mais um ano novo, das escolhas erradas e de novamente me enfiar, como roupa amarrotada em uma mala, em situações nas quais não deveria estar, com pessoas aleatórias e todo o potencial de destruição necessário. Neste ano abandonei a taça e puxei a chave do carro quando não havia mais jantar ou sobremesa que justificasse minha permanência, assim o alcool não me derrubou pelas costas - ou de frente - para uma tragédia novamente. E assim lembrei dos anos anteriores.

E assim fatiguei um ano quase que amaldiçoado por novos termos e as últimas das palavras.

E assim foi: eu disse que este ano só perdia para aquele, e nesse roteiro do primeiro dia do meu ano assim foi que dei o gancho para o que estava por vir. Que 2024 tenha piedade de todos nós, porque aparentemente serão muitos assuntos a serem enfrentados - e finalizados, espero.

E o quanto de nós é necessário para encerrar e perdoar?

Meu deus, talvez agora esteja começando a cair a ficha, ao som de musicais e tons desbotados nas ruas. Ou talvez só aconteça quando eu o ver e assim materializado e deitado com as flores que os segredos e detalhes agora só vivem comigo - eu rezo para que a luz possa levar o que deve das memórias e iluminar o caminho.

Eu não sei muito no que acredito, sei mais no que não acredito. Sei da verdade, do que aconteceu, do que quero esquecer e das cicatrizes. Do que não sei sobre o depois, um dos poucos fios que me fazem sentido e creio é que não devemos prender as pessoas, seja antes ou depois. E assim escolho perdoar e deixar ir, escolho pensar nos vários traços bons e sentir a única coisa possível hoje: essa mistura de tristeza e sonho ruim, longe da realidade.

Fazia um tempo que eu planejava voltar ao texto corrido, não me prender aos versos e fuga das rimas, e hoje consegui. Hoje consegui por obrigação do peito rasgar as linhas e lembrar que a gente é adulto, mesmo que não pareça. Que mais do que pegar o carro, pagar contas e pensar no futuro, ser adulto é muito isso, a finitude da infância e de tudo, da inocência à esperança.

Espero que algum dia o vento sopre mais leve como um abraço para quem ficou e, de alguma forma, haja paz.