quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

antes de levantar

Esta noite ante a morte lhe vi de joelhos
Terno branco e camisa preta
Ao meu lado
Olhos fundos como a imensidão ao norte e sul:

Fiz as contas nos dedos e me entrelacei
Com o tempo que passou e há de vir
Com as nuances do céu estrelado 
Com a Lua gritando nomes até a corda arrebentar
em brincadeira de criança 

Esta noite você morreu
E eu também.

domingo, 3 de julho de 2022

dúvidas da madrugada

Às vezes eu me pergunto 
Se em algum momento sou eu 
Ao abrir a geladeira
O motivo de perder o rumo

Se esse título é meu
E visito as penumbras e sonhos 
Ou se são só meus pesadelos incertos

Se são cantos ou bocejos 
Aves ou morcegos 
Acenos ou abraços na multidão 

Será que o calendário tem medo ou desejo 
Será que meu anseio é verdadeiro
ou só distorção?

Eu tenho e teio entre os cantos das paredes
Carrego mas costas e nos dentes as cordas grossas
E as vocais empobrecem, as vogais entorpecem

...

O futuro se presta como uma roupa remendada
E meus dedos sangram pelas agulhas.
Minhas fagulhas consentem e tentam consertar, de longe
Tentando avistar, de fora
Tento acabar, demora

Temo apanhar - agora
das linhas acumuladas e dos termos perdidos sem marcador 
Dos traços bonitos
Dos abraços tremidos.

...

Às vezes me pergunto, dividida
Eu, em dúvida
e dívida
com todo o meu amor


quarta-feira, 13 de abril de 2022

das voltas dentro do polígono

Perante as minhas nuvens 
Entre o céu da boca que um dia já se calou
E proclamou dependência de um antigo mundo,
Entre os dentes trincados por pequenas mágoas:
Águas passadas que voltam em chuva.

            No caminho de uma escadaria.
Atrás da garagem.
                             De frente à fumaça.
                                                          Dentro de uma fuga vestida toda de branco.

Detalhes por detrás dos óculos escuros em plena noite
Alento e perfume distintos, soberbos
Pulso de quem morre e volta:
Eu lembro de quando jovem e isto era, mais do que novo, inédito.
Eu lembro como se sonho fosse piada e os pecados voltassem pela janela aberta.

[
Cabelos escorrem cor na madrugada.
Mãos firmes e lantejoulas no chão vermelho.
Murmúrios ao fundo, final de janeiro.
Nem datas, nem terras
Nem nomes, nem eu
Nem eu sei ao bem o porquê de lembrar de tudo isso.
]

Sem foco, sem fome.

Vindo do sangue que também me pertence, eu me invoco!
Eu me provoco ao provar das provas de um pseudo crime
Pseuda crença de que não devia agir,
Parcela pequena e primeira de muito que ainda haveria de chegar - e partir.
( Mesmo em mesma noite )
(( Mesmo não sendo mais a mesma))
((( Ao mero acaso e esmero, espero 
Que eu não esqueça ))).

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

certezas

De alguma forma, eu sei.
Eu pressinto o que está acontecendo pra lá 
Consigo quase ver os olhos e sentir o cheiro 
E passa por mim como em um palco 
Nebuloso, empoeirado de memórias velhas e parecidas 
De tinta descascada no fundo da gaveta
Ou já jogado no lixo algum dia do passado.

Eu sei. Eu sei, mas não sou 
Muito menos sua, quem dirá minha
Nem mesmo relance no meu espelho
Nem mesmo cicatriz na minha pele.

E tudo segue sem mim 
De uma noite pra outra, riscando no calendário esperando por algo
Que isso, sim, não sei o que é
Só sei que tudo já acabou, tudo.

Como se os filmes que ainda restam, eu já vi 
E mesmo se não tivesse visto, seriam iguais aos que já vi
Ao que já vivi. Tudo.
Já vivi tudo 
Porque aparentemente não tem como se sair daqui 
Dessa cidade, dessa pele, dessa vida e prateleira suja.
...

E noite após noite se concretiza a certeza, ainda sem data
De que a faca que me abre trará um marco
Uma marco de mudança na vida
Pois talvez seja.
Cada noite eu não consigo evitar de saber 
De alguma forma
Que será assim: páginas coladas e memórias finitas 

Não há mais o que esperar 
Nada de novo sob o solo vermelho 
Nada de novo nos cabelos em chamas 
Nada, de novo, que sobra no meu peito 

E eu tenho certeza do que aconteceu lá longe de mim 
De novo 

E eu tenho certeza essa noite antes de dormir 
Eu vou 

Eu vou