De alguma forma, eu sei.
Eu pressinto o que está acontecendo pra lá
Consigo quase ver os olhos e sentir o cheiro
E passa por mim como em um palco
Nebuloso, empoeirado de memórias velhas e parecidas
De tinta descascada no fundo da gaveta
Ou já jogado no lixo algum dia do passado.
Eu sei. Eu sei, mas não sou
Muito menos sua, quem dirá minha
Nem mesmo relance no meu espelho
Nem mesmo cicatriz na minha pele.
E tudo segue sem mim
De uma noite pra outra, riscando no calendário esperando por algo
Que isso, sim, não sei o que é
Só sei que tudo já acabou, tudo.
Como se os filmes que ainda restam, eu já vi
E mesmo se não tivesse visto, seriam iguais aos que já vi
Ao que já vivi. Tudo.
Já vivi tudo
Porque aparentemente não tem como se sair daqui
Dessa cidade, dessa pele, dessa vida e prateleira suja.
...
E noite após noite se concretiza a certeza, ainda sem data
De que a faca que me abre trará um marco
Uma marco de mudança na vida
Pois talvez seja.
Cada noite eu não consigo evitar de saber
De alguma forma
Que será assim: páginas coladas e memórias finitas
Não há mais o que esperar
Nada de novo sob o solo vermelho
Nada de novo nos cabelos em chamas
Nada, de novo, que sobra no meu peito
E eu tenho certeza do que aconteceu lá longe de mim
De novo
E eu tenho certeza essa noite antes de dormir
Eu vou
Eu vou