segunda-feira, 30 de novembro de 2020

aqui dentro ecoa

 Aqui no meu quarto a chuva é bem barulhenta

e não deixa ouvir as batidas 

De que tudo mudou de lugar 

Meu espaço no canto daquela sala 

Na esquina da minha mente com minha inquietude.


O sono me derruba 

Três lances de escada 

Abaixo 

De onde já estive.

Não é um pódio, apenas degraus altos demais pra se subir 

E escalar, escapar de outra dose abusiva 

Noite adentro nas manhãs mal dormidas.


Estou envolta num plástico bolha 

Cheia de manchas e manias dispersas 

Irregulares na pele 

Tese ou mapa antigo pra esse local

que insiste em me expulsar.


Minha garganta aguarda

no seco ou gelado, quais os comprimidos descerão

junto do corpo ao chão.

Certa vez me intitulei assim...e no fundo sabia

que sempre fôra

fora daqui

dessa jaula de barras espessas e frias -

inconsequentes


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

outra madrugada desatando nós

Eu sempre rabisco essas linhas vermelhas 
Entre dedos, mãos e caminhos 
Sem mesmo saber ao fundo como funciona, mas crendo.
Eis que então, depois de outro risco cheio de nós 
Eu lembrei de um momento.
Que, entre tantos outros que me vêem à memoria hora ou outra, passou despercebido por muito tempo 
Ate porque já faz tempo 
Até porque eu nem sei mais 
Mas lembrei de quando tomei o ultimo gole de coragem da noite, como naqueles copos rasos de whiskey 
Ou pote de doce que precisa ser rapado com dedo
Misturei a ultima gota de coragem com a única dose de falta de noção 
E aquela fala foi o gatilho necessário 
Na época como agora 
Mas hoje não tomarei ação, nem coragem ou sequer tristeza 
Nem esperarei o terceiro dia pra ressuscitar 
Mesmo que as minhas noites sejam em claro: a Lua nao está aqui 
Muito nao está aqui, porem eu há de ser 
Aquela que continua comigo 
Nos rascunhos e linhas tortas 
Como os dentes tortos 
Ou os passos, as linhas dessa historia 
Que virou estória 
Ou sempre foi 

Fôlego 

Mas nao pro choro, nao hoje
Não porque seja um dia especial: porque não é.
Mas porque o tempo só segue o caminho à morte 
E ela já veio arrebentar a linha vermelha 
Se é que ela existe 
A morte ou a linha 
O amor ou a minha - morte 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

me diz

O tempo não deveria, dessa vez, estar a nosso favor?
A feridas não se curam?
''como pode falar de agora?''
Eu que tanto sou e venho da Lua
cheia de ti, dela, de mim,
canto e choro, morro e vivo novamente para morrer mais uma vez
sob o céu sem lua

eis que essas palavras me ferem
Algumas imagens me doem de formas que não esperava

São tintas velhas no porão,
no canto do palco em que a fumaça forma seu rosto
mesmo incerto.

Uma noite, uma música
uma nota inalcançável
sem fôlego ou comparações.

Finais tristes são os mais belos
cortados pela corda ou arma
num vermelho que mancha meu vestido branco:
não de casamento, mas personagem, mais uma vez.

Anjo da música, cante a canção
leve-me pelo rio debaixo de sua capa
em que homem e mistério estão,
vinde uma história tão desentendida
e dolorida
quanto bela.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

1° de Julho

Quase sem querer 
Os acontecimentos se alinharam mais de uma vez
Como uma santíssima Trindade das mágoas,
Em mesma data,
Por três anos seguidos,
morri.

Cada uma delas sob o frio extremo da noite 
seus ventos que levavam embora as festividades juninas 
para trazer o inevitável.

Qual foi a ultima vez que você chorou? 
Minhas lágrimas me inundam e renovam toda semana 
E por mais que as datam tenham passado: 
Se renovam.
 
Sê! 
E quem renova? 
Quando cada vez mais perto chega a se completar 
Mais uma vela no bolo 
E dedos contando no bolso 
Quanto tempo falta para o fim.

Algumas datas machucam 
Mesmo como algemas 
No canto, no chão 
Em algum lugar esquecido, mas presente 
Embrulhado com fita
Em volta do pescoço.

Existem forcas e forças que trabalham juntas 
A favor do chão,
em que se deita e derrama 
o que for que doa 
nesses tempos estranhos.

sábado, 6 de junho de 2020

tempo de se expor

É quase engraçado
que durante o êxtase eu sinta um perfume 
E veja com clareza os dedos virando as páginas 
E sinta o gosto 
E veja o espaço 
E chore 
tudo junto nos poucos segundos que quebro o silencio da madrugada 
quando o gemido foge da minha boca.

Sinto um calor queimar-me de dentro pra fora 
O suor riscar minhas pernas 
E o cabelo grudar no rosto.
Sinto por não ter aqui onde apoiar 
Pra não cair 
de volta pra realidade.
Ou da cama.

A fraqueza dos meus braços retorna 
Como as pontadas no meu peito 
Ora doloridas, ora não.
Ora dor requerida.

E o sono me toma nos braços 
Pra quem sabe um outro desfecho 
Quando os olhos estão fechados 
e não se revirando ou chovendo.


domingo, 17 de maio de 2020

Não é bem assim

Me falaram que antes era ao contrário
Eu lá, eles cá
mas não desta forma.
São três da manhã em algum lugar de mim
que enche luvas descartáveis como balões
Anunciando uma festa que nunca acontecerá
Em devido canto de janela envolto na cortina esperando
os convidados que nunca vão chegar
com coração palpitante na garganta
e todo um roteiro pronto na cabeça:
De, quem sabe, as coisas acontecem diferente,
E pela porta entra, sem bater, como filme clichê, na sala de estar
na platéia ou qualquer lugar
E bem na minha frente o tempo para.
Pra nunca mais
Ou pra sempre.

Em data específica, ou não, os números continuam os mesmos
Ou piores, pro meu lado
Tendenciosos a se acumular em cima do meu cobertor
Tornando denso e pesado
Impossível de se levantar ao soar do sino
Ou dos sorrisos distantes.

Eu vou embora
De volta pro começo, mesmo com meio diferente
Indiferente à mim.
Eu vou embora
Pro quarto em que risquei minha morte
E jurei não voltar
Vou andar
Pelas ruas que odeio
Em que nem se pode andar sem rumo,
Todos os caminhos aqui sei de cor
Pois terminam no canto da caixa,
na casa no centro de janela bonita
E 17 na urna.
Eu vou embora
Porque nem lá é meu lugar
E ainda custarei saber aonde é.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Abstinência

Minha casca e sementes se desmancham ao amanhecer
depois que os sonhos das noites passadas se apagam
E o laranja do céu por algum motivo
entre memórias distorcidas ou não
Faz me sentir assim

Às saudades eu digo basta
já que hoje minha redoma não é de sabão
mas como bolhas e calos nos pés
De tanto andar de volta àquele lugar.

Até as músicas de outra era recortam dessa revista velha
Guardada na cabeceira da minha cama
Em que releio as noticias antigas
E reconfortam as de agora, lá fora

E cada giro que vira noite e dia
E eu viro as madrugadas em vão
A cada vez mais, menos sentido há em se deliciar na tontura, tortura
de rodopios infinitos
Tal como redemoinho querendo dançar.

Mas redemoinhos não dançam
E eu não me canso
de pensar
- que esse giro talvez me leve de volta
Ao início
Invés de ser o meu fim.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Inefável

Bem no fundo da minha cama
Bem no ponto em que me afogo
Me afaga um caminho
pra tudo que me faz, fato e tato
Em pedaços do meu todo
Riso e modo.

Às vezes há muito de mim
E inundo-me
Unindo-me a mim
Sem ser redundância
Ou mesmo incoerência de se afundar para levantar.

Do verso da cama

A minha versão assim, de mim
é tensão lida
De uma gramática torta, mas às vezes engraçada
na ponta da minha língua
Perdida em versões e versos e verões
Aliterações e alterações na bula
Que mais soa como lâmpada.

Mágica ou de luz,
desde que em minhas mãos.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Os limites do que foi um dia

Engraçadas as datas que são passíveis de
c o m e m o r a ç ã o
Não estou comemorando, mas datando que sao dias e meses completos
que tudo está assim.
Os numeros mudaram
e hoje o dia consegue começar bem, longe do caos instaurado em todo local
e sobrevivente às memórias doídas, doidas.

Algumas fotos das quais não me lembrava
detalhes
e pontos de ar na falta de.

Meu remédio acabou
e talvez seja mais água pra mim do que a mesma.
Meu remédio foi tirado de mim
e isso deveria ser comemorado
mas a dependência ou a falta desta não importam
desde que o coração não pule pra fora do peito
o cabelo caia, por força maior ou não
e o corpo se rasgue em expansão.

Quando o relógio supostamente bateu meia noite e o dia 21 chegou
nem notei
enquanto contava meus desejos de trilha musical
de como brinco, ou nem tanto, que quero me casar.
Hoje já não sei se ainda tenho esse desejo
mas gosto de pensar nas músicas dos filmes do Shrek e o Fantasma da Ópera guiando os olhares
atentos aos meus olhos em uma comemoração do amor,
dos dizeres pra sempre.
Não sei se ainda acredito em nada disso.

Mas tudo bem, mesmo quando não está.
Tá tudo bem quando a escrita é só desabafo
e os versos não são necessários, poéticos, belos
porque há tempos não são
há tempos não sou.

terça-feira, 17 de março de 2020

Minhas fronteiras e vulcões e terremotos

Visto minhas luvas, não mais toco em ti
Teu corpo tão longe do meu, independente das crises
no mundo ou no teu quarto
nos teus olhos ou nos meus.

Toda a cor que me falta, mas mãos, na pele que corre em meu corpo
me despe ingrata, indigna de reflexo
em qualquer espelho quebrado nesse caminho
até teus pés, até o cerne dessa história
que insiste em não me deixar dormir
e invade meus sonhos, quando consigo.

O preto e o branco na minha superfície batalham pelo espaço
entre os traços de um passado conturbado e as manchas que ele trouxe.
Sou roupa desbotada no fundo da máquina
e pingo no varal todas as lágrimas e drinks e dores.

O que resta de cor tende a escorrer, mas às vezes
tal como tudo há de ser, forma mares e ondas bonitas no chão do banheiro antes de ir embora
-como ti.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Hoje

No fundo da casa em que nao mais moro achei uma caneca minha
E outra, e outra
Todas ligadas em uma memoria só
A um habito que perdi
Uma história virando história.

Minhas palavras as vezes machucam
Tanto quando as bebo em frente ao espelho
Quanto as derramo em terras distantes.
Não foi porque as suas me machucaram que eu deva fazer o mesmo
Mas as fiz, em atos e palavras, pensamentos e omissões
Mas tudo bem

Eu vejo que tentei novamente me enganar
Mas sou quem sou
E possivelmente sempre será assim,
Mas ao entender isso vejo como esta tudo bem
Eu comigo e com você
Em formas diferentes da qual um dia já foi.
Hoje já não me dói
Nem odeio
Hoje eu lhe tomo como remetente mais uma vez
Mas não mais de uma carta de amor.

E Ta tudo bem