domingo, 17 de dezembro de 2017

Cicatrizes

As marcas não me deixam esquecer
Jamais
De toda a jornada.

Elas se alastram
E domam meus dedos
E rosto molhado.

Parece não ter fim
Até que meus olhos se cansem
E permitam a cama me abraçar.

Que os sonhos lavem tudo
Os riscos, as manchas, as lágrimas
E as pedras polidas no caminho.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Silêncio e suavidade

Já não tenho mais medo de fantasmas
Ou da poeira deixada pelos pés.
É um sorriso concreto, bobo pelas ruas
Da criança que encontrou o amor nas pontas dos dedos.

Que o abraço seja eterno
Porque agora eu sou.
Transbordante como as lágrimas involuntárias
Nós olhos que antes dessas ja brilhavam
E temem.
O amor renuncia o medo, mas o traz
Derrubando minha porta
E sujando meu chão agora limpo.

Eu não quero ter medo
Mas tenho de acordar.
Que o sono jamais me leve enquanto tudo for leve
E eu voe.
Meu sangue transporta amor
E todo meu corpo cora
E a coragem que corre
E corta cada uma das cartas
Carrega
E conta
Um conto de fadas um tanto mal escrito.

Eu sou uma flor azul
E é primavera.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Sequência antiga

Eu agora tenho várias peças na minha coleção de porcelana
Várias xícaras quebradas
Com desenhos em tons pastéis.
.
Fumaça
E prescrições com letra feia em cima da mesa.
Um
Dois
Três goles d'água
Para todos os comprimidos descerem a garganta
Seca
.
Eu remendo, redesenho, rabisco
Cada linha que perdeu seu segmento
Cada caco de louça perdido na ferida aberta.
Os pedacinhos de cabelo também surgem
E uma palavra ou outra tropeçando em poesia
Ou tentativa brusca de.
.
.
.
Rasuro um pecado nas costas da mão
- Orgulho.
É mais facil que um espelho estranho
E outras coisas de empurrar pra detrás da cômoda :
Incomoda.
.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

As asas do baralho

Segura minha mão
Que meu corpo leve
Tende a flutuar.
Se a gravidade não for suficiente
Ou se a ciência sempre esteve errada
E pudermos voar,
Há de ser assim
Na lentidão de um abraço
E devastação de um beijo.
...
Meu peito se arrebenta
E cada veia do coração se desata
De todas as cordas que já me prenderam.

Suspiro
Invocação de tudo que é
Antes mesmo que fosse
E até depois de acordar
E redescobrir todo dia os pés fora do chão.

Meus dedos buscam a eternidade dos ventos
Enquanto os olhos descansam sobre o ombro.
Dedos que estalam
Estrelam
E se entrelaçam,
Rabiscos, rascunhos e arranhões de uma história longa
Digna de boca que não fecha
Entre sorrisos
E sustos bons.

domingo, 22 de outubro de 2017

Caramelo: A pequena flor azul de açúcar

E vai ficando difícil de se escrever
Pensando nas morfologias do pretérito que já tanto rendeu poesia,
Já que agora o peito se recolhe feliz em silêncios
E olhos fechados que somente em beijo transcrevem
Como quem risca a própria pele
A vastidão de um sentimento bom.

E por muitas vezes há necessidade de analisar se é um sonho, uma pegadinha de mim mesma
Uma idealização ja feita que acarretará em choro ao acordar
Em sorriso calado de querer ser verdade,
Pois
O que realmente é...
Transcende a imaginação
Pois nenhuma ficção ou poesia é mais pura que a realidade.

É quase um tapa na cara levemente solicitado
Quando a Lua é cheia todas as noites
E os olhares também.
Minhas mãos brincam dadas e investigadas
Pelas que seguram meu rosto
Ante a briga contra o relógio
Mesmo com o tempo não ser o mesmo.

Desnorteada
Sem saber usar uma bússola
Sem temer o doce dos lábios
E o infinito do agora.
Minhas palavras perdidas não sabem o que são
Mas sabem
E sabem
Que não poderia ser melhor.


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O desenrolar do fio vermelho

Meu coração tem pressa.
Por vezes, o relógio também tem pressa
Mas eu não.

É engraçado como a vida tem suas voltas
E nos rodopia em dança.
Girei
Girei
Gritei e girei
E girei
e
G
       I
           R   
          E         
       I   
.
.
.
E cai.
Cai de volta aos braços e fechei os olhos
E sorri.

O corpo que se recosta aliviado das dores e do mundo
Que se esquece dos problemas e datas e prazos
Tão iluminado pela Lua cheia
Ou raios no céu,
Tão tempo como é
Como presente surpresa.

Todos choramos.
As lágrimas invadem o rosto que as mãos são postas com ternura
mesmo em sonhos bons
Porque nem nos sonhos bons
Nem no melhor deles a vida acontece.
...
E vou lhe contar um segredo:
Ela acontece.



domingo, 13 de agosto de 2017

Sagrado

Consagrou-se
De pés descalços e irmãs de mãos dadas.
Juntas, Unidas e mais fortes.
Vindas de passados diferentes
Crenças, medos e traumas que só fortalecem mais o ser mulher.

Meu coração batia aflito
Bombeando o sangue que marca as feridas
E escorre pelos olhos, borrando a maquiagem.
Os olhares ternos se complementaram
E na cachoeira todo o mal foi levado
E abraçado conforme a dor era lembrada.

As lágrimas tornavam a voltar
E verem refletidas nelas
Ainda tão jovens
Que precisamos umas das outras,
E em cada uma encontramos lar e paz.

...

Todos os abraços dados se fundiram
Entre peles de suor e lágrimas
Ou agasalhadas em pêlos;
Vivenciada por presenças
A noite e a gratidão emanavam luz na tenda vermelha
De toque leve
Em uma data chamada amor

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Inverno

Várias vezes escrevi e apaguei
Apaguei e reescrevi
Recomecei
Para voltar ao início de uma história sem fim.

Eis que eu ando mentindo
Incansavelmente
E até as minhas mentiras contam mentiras
E perdem a conta.
As linhas cruzadas e mal costuradas na minha pele não querem sair
Não querem ser curadas
Ou esquecidas
Não querem se tornar lembranças
Ou passado.

Eis que a memória é imperdoável
E a dor inflamada não conhece cicatrizante
Ou agulha que realmente fira
Fure
E fuja.

O frio vem enferrujando as palavras
E cobrindo o morcego com mil cobertores e dores
De um corpo prazeroso em sofrer.
...
Mas das mentiras descobertas
As que me descobrem no meio da noite
Inconsistem ante ao lado direito da minha cama.
Ignoro a parede e viro-me ante ela
De movimento ensaiado ja apresentado aquela vez
Amanhecido de sonho
No passado perfeito
- cuja gramática dispensa ser ignorada
Da língua entre os dentes
E a rima.

- mesmo que tudo mude, minha mudez grita riscando as paredes silenciosas e ensurdecidas -


quarta-feira, 31 de maio de 2017

Inflamável

Você acha isso certo?
Citar Dante ante meu nome
E em meio a seu inferno lembrar que o fogo queima
De dentro pra fora?

Se soubesse que o fogo arde não só a alma
Que todo sopro em meio a cinzas
É brasa bordando segredos,
Seria rei
De um fogaréu azul
E lábios vermelhos.

O inverno e eu renasceremos,
Em breve todo o frio será mantido
Para que o calor possa existir.
A chama se ergue
E chama
E dança em torno
De tudo
Que 
A
Faz
Queimar.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Anatomia de uma meditação

Todo ar que entra vinculado
Em perfume
Respira e gira a cabeça
Para longe de si.

São camadas de luz
Cores que todos os lápises desistiram de reproduzir:
Noite queimada em laranja,
Escuro morto em luar.

O ar que sai
Desesperado
Entre um fôlego desprendido do corpo,
De experiência extrassensorial
De vidas presentes
Implorando futuro
É cristalino
Como o globo da vidente que insiste em nada contar.

Os ossos estralam
Estrelas
Entre as tristezas trêmulas
Da Palma da mão.
...
Coração que sai pela boca
De certeza no infarto
Sabe de seus batimentos
E todas as batidas
Em outros
E bebidas, afogadas entre músicas iguais.

Inspira o ar
Inspira ação
Inspiração
Piração.
Pois se todo escritor tem pouco de escrita,
Todo médico há de ter pouco do louco.
Louvado seja
Aqueles que não morrem na falta de ar.te.

Traz-me pra uma saudade tão grande que não cabe em metáfora que não cabe em sentença nem em linha mas não liga pra linha porque linha é fio é frio é memória que se aquece debaixo do meu cobertor que não sabe que é feito de linha só sabe que é feito de saudade.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Atenda

Hoje encontrei uma premonição do passado.
Dos tantos desencontros diários,
Ante aos encontros previamente sabidos,
Surgiu em minha frente
Tal como uma cartomante pedindo pagamento
De rosto igualmente aceso
Levemente envelhecido
- assim como tudo que em mim habita.

As luzes direcionavam-me
Mais forte que qualquer metáfora para gente devagar.
Meus olhos viam àqueles
Tão pequenos e florestais de aquarela
Que não enxergaram que já eram conhecidos.

Não tive coragem de arriscar
Então perguntei seu nome.
Respondeu
E o ditongo amorteceu-me
Posto meus olhos ascenderem
E o sorisso tomar conta
Das dívidas.

- Eu conheço você.

Mas ele não se lembrava de mim
Estranho seria se lembrasse,
Pois talvez nem existisse
E fosse visão
De gente míope.

- Acho que to me lembrando de você...

Fui retirada.
Rindo as atmosferas do meu azul não acreditavam
E nunca acreditaram
Em coincidências,
Em data tão distinta
Trazer destino personificado invés da morte.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Desabafo de dores antigas

Eu tenho medo.
De um passado brincar de presente
De um título
Um assunto jurado nunca mais virar motivo para uma palavra sequer
Virar poesia.
Poesia ruim
Virada na panela com pouco sal.
É uma escol(h)a
Já indicada na terapia citada
De confrontar o perigo
Para vence-lo:
Pena que esse jogo não tem regras
E sou boa em perder.
Não pularei linhas
Nem as de expressão
Das lágrimas e sorrisos que causou,
Da loucura que criou em minha mente.
Quando falam de loucura a poesia é breve, simbólica
Mas uns versos feitos assim
Em tom de suspiro antes de abrir a porta
De auto aprovação
Fala de loucura real
De remédio e internação
De rasgo jamais tido em papel
-bem escrito demais-
Pele e parede.
Eu ainda tenho medo
Mas maior certeza de estar pronta
De melhor enfrentar sabendo do desafio
Do que levar um tapa não esperado.
O tempo passou e muita coisa mudou,
Tornei-me mais eu
E menos do que criei ser.
O mal criado fez bem
Mesmo depois de saber que esse existia e este era falso,
Fez bem e fez parte
Mas não é todo
-não mais.


Assinado com firmeza e certeza de que qualquer espelho confirmaria autoria.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Sintomas de vertigem

Rasteja entre os fios
E frios
De uma pele descoberta
Por quem vem.
Os olhos se fecham
Ora inconscientes, ora não
Oração
Para qualquer deus ou santo ou orixá ou energia que aceite
Uma súplica
Maior que as palavras tentam caber.

Transborda
Da boca, das mãos
Das manhãs acordadas de noites adormecidas de entorpecentes:
Encontra-se depois de perdido
De pedido ao pecado
Em si mesmo
Por outro(ra) reflexo.

Um mar branco
Afogado nas próprias palavras de desejo
Riscado nos versos inscritos na pele que ninguém mais vê,
Águas de batismo
E brinde.
Corpo possesso,
Iniciação em ritual
Que não tem mais volta
Em voltas e voltas
Até esse círculo significar algo
Que a dor e mente não ousem citar.

Mãos se dão
E são.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Intern(a.ção) em dias de alta

A.Os que passam
E amassam minha roupa passada
O passado
De um futuro em pretérito.
Tempo fechado, confuso:
Cara de chuva
Corpo de sol.

Tempestade fácil de vir
Nos redemoinhos de anéis
Em que os dedos
Estrelam.

Os furacões levam nomes
Embora.
Embora assim seja
Este nome não tem pronúncia
Pois suas letras foram levadas
De vento e frio
Lavadas em mansidão que impede natureza ser tragédia.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Clame por um adjetivo

Muito murmúrio monta mu(r)ros.

A quietude da fala
De uma mente pura ao ouvir alheio
É a voz necessária:
A voz de um eu lírico rouco
Por ter muito gritado silêncios.

Ante aos antes e depois
Porém, quanto ao durante
Quanto antes possível.
A noite cai
E derruba todos da terra ao céu.

Palavras milimetricamente conduzidas
Para não serem arma na mão de outros
Ou, pior
Arma dada
E posta à boca
Por si próprio.
Nem toda arma mata de gatilho.
...
Que um dia
No depois mencionado
Possa ser noite durante o dia
Sem que a luz da Lua cege.

Um corpo que dói da luta
Cravada na pele
Menos doce que tatuagem
Nem tão cortante como cicatriz:
Digital
Que dispensa escrita ou assinatura,
Texto que só as paredes ouviram
Declamar
Como se poesia bebesse deste co(r)po.

E quem sabe até, talvez.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Pedido de des(culpa/pedida)

Tal como um suicídio
Despeco-me em desculpas
Em culpa no sofrimento alheio
E no meu próprio.
São três pedidos diferentes
Tal como o gênio concendiria.

1. Deixo todas minhas pétalas
Àqueles que viram os espinhos.

2. Terão toda o crescimento guardado da flor
Quem viu o quanto escolheu secar.

3. Que o perfume permaneça
Na camisa que pôde colher.

...

A mim nada sobra.
Assim como talvez
E somente talvez
Deva ser.
Pois quem sabe
As flores sejam dadas antes do túmulo
E
Toda morte seja mesmo renascimento,
E por ironia da teimosia
Seja dada à luz na mesma vida
Ante a repetir os mesmos erros
Devagarinho, com título e discurso de mudança
Na mesma coreografia:
Nunca dancei bem
E talvez por isso nunca ganhei flor.
Que fostes.



- Sempre soube ser uma Rosa azul. Mas também sempre soube que as rosas azuis não existem, são brancas tingidas, como a rainha de copas faria-

domingo, 19 de março de 2017

Metalinguagem metida na língua

Tem coisa na vida que só tem sabor se souber distanciar,
como fígado
que é gostoso sim, mas uma vez a cada dois meses.
Foi assim que por um acaso
de devolução em prateleira
peguei os dois livros na mão.
Um terminado, outro não;
ambos empoeirados e já na hora de voltarem aos olhos.

Abri-o. Marcadas como gado, as favoritas continuavam as mesmas
Sinceras até demais
riscadas à lápis a dor que eu pensei em apagar
mas ainda não.

Ousei continuar o segundo livro
E as poesias dela não hesitaram em
acabar não metaforicamente com minha cabeça
embora também tenham,
mas em embaralhar fisicamente.
Estas aqui são palavras doídas digitadas vomitadas no fim da noite
e talvez também o meu fim
porque sou exagerada
e talvez os remédios que ainda tenho pra tomar sejam o meu fim.
O meu fim
Como se fosse um filme essa confusão toda vestida de gente.

EnFim
Fui relever o começo deste escrito,
sim, este mesmo que está lendo.
E ri
Ri da desgraça que é a ironia da minha vida.
...
Minha cabeça ainda dói
dói da verdade que as palavras estão a falar
aliviadas
no vento que essa janela de carro traz.
Janela fechada, está frio e eu sei que ela não iria gostar
mas já apanhei também de janelas fechadas,
talvez seja a intenção
machucar-me
até que no final
sim, o meu fim
transforme-se de papel em imagem corrida.



quarta-feira, 15 de março de 2017

Não olhe para o céu esta noite, meu amor

A Lua cheia de dias atrás abre a luz noturna
Entre as lâmpadas alaranjadas ante o movimento destino
Eu vejo e assisto dançar as estrelas
caírem
Coreografadas na ponta da tua caneta.

Os versos pesam mais que o tempo merece
E logo amanhecerá.
Não veja o dia tomar conta
Não peça que o inverno chegue,
As vidas de verão soam curtas
Em cortes profundos.

O sopro de fogo
De garganta adoecendo
Faz de olhos fechados
A vista
À vista.
Eu sei usar crases e sei pontuar
Mas,
Às vezes
Não consigo.

Se o mundo acabasse hoje
Quais seriam as vírgulas que o céu não poderia transformar-lhe
Em pontos
Ante o seu
Final?

Anedota:
A chuva passou na cidade de açúcar
Junto das pessoas
Que se tornam de açúcar
- e talvez por isso, meu amor
Que meu sangue ameace diabetes
E os chamamentos mostrem-me ainda mais doce.


quinta-feira, 9 de março de 2017

Injúrias, amuletos e pedidos

De Socorro.
De silêncio.

A escada estava encostada à parede
Desafiando-me
Cuspindo em minha cara se tinha coragem
De ir contra os degraus ja subidos.

Perdidos
Estávamos nós
Com medo da queda.
Pedidos pra Santo António
Em suas simpatias disfarçadas de preces.
Que pressa
Que a vida acabe
E caiba
Entre os degraus da escada?

Que peça
De quebrar a cabeça
Ou o coração,
Das tantas vindas entre andares
Primeiro:
Se andares, caio.
Segundo:
Que seja feminina
Segunda-feira
Para continuar a mesma.
....
A fé ri alto
Em feriados
E corte de disciplina
Como um legume
Em facas mal afiadas.

Vamos
Gritar em meio à rua
Os silêncios que nos calam.
Vamos
Em meio a essa bagunça
Discutir o que é pecado.

sábado, 4 de março de 2017

Hipo.crisia

A vida é um circo
Vicioso.
Os palhaços riem
Das piadas que os ofende
- e as repetem
Em uníssono
Em vazios que não são ditos,
Mas escondidos no canto da sala
Redonda.

(Redoma)

Nota:
Vazios se expandem em locais pequenos e aglomerados. Poções mágicas não existem, mesmo com glitter presente. A faringite, amigdalite e pneumonia são mais importantes que sentar no chão-
Mas não só o gelado dos ventos adoece.

B² 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O que permanece

Quando pequena
Antes das longas pernas crescerem
E tornarem a visão falha,
Pegava os confetes
Um a um
Do chão.

Era um contentamento com o pouco,
Resquício amassado de ontem, de outrém.
Coisas que crianças fazem sem saber.

Nem todo confete é Carnaval
Mas todos são papel rasgado.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Vazio

Vá.

É um salto aos braços do precipício
Queda longa, pertinente: silenciosa.
O que há de escuro em todas as noites mal educadas
Vive na carcaça
Junto à pele.

Um disco riscado
Arranhado pelas unhas
E garras
Em sonho em que (me) agarra
Antes que o lençol caísse ao chão -
Ou o despertador de fato despertasse a dor.

As glórias ão de ferir.
E todas as sentenças gramaticais
Tornarão-se judiciais,
De conversa desinteressante e vaga.
A poesia está fadada,sim
Pois as fadas não conseguem mais voar.

Promessas não são eternas, têm seu tempo dado-
Dados à mesa.
Que eu possa tirar um número alto
E as casas me levem aos olhos
Que insisto em mirar
Como o suicida que mira o asfalto diante da Ponte.
...
É o precipício com que tenho que me contentar
Que aprendi quando pequena a diferença
Mais fácil de escrever do que lidar
Da Ponte com sua água
Do viAdu(L)to.

Nem toda certeza escrita em parede sobrevive.

B² 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

De cartola e bengala

Noite passada sonhei com meu amor
Senti em mais um dos pesadelos decorrentes
Correnteza de rio-sem riso.

O Branco da tinta se esvaia antes de chegar pela ponta dos dedos ao rosto
O cabelo caia
E as luvas saltavam das mãos.
Não era mais quem queria ser
Não era mais a mim.
...
Um atraso e uma falta tornou-o(me) resto,
Tristeza de escritor mal resolvido
De adolescente que nega ilusão.

Em sua pele senti-o ser
E a garantia de felicidade variava
Entre os aplausos de uma plateia inexistente e uma
Plateia de sonho, figurantes de uma mente mentirosa.

Que deleite seria não ver os buracos e rasgos da terra -
Mas os olhos sempre foram grandes demais.

Ainda acordada o não saber
O sem explicação
A exploração
Na memória infiel e dizimista.
As vidas passadas muito devem ter pecado
Pois o tempo não tem piedade
E a misericórdia transpoe-se ao vazio.


domingo, 29 de janeiro de 2017

Instigantes suspiros contra a cama

Nada pareceu mudar
Em nomenclaturas novas
Mudanças e aluguéis,
As tardes continuaram a descer contra a cortina
E abandonar o calor.

O passo de valsa com saias rodadas em uma vida utópica
Era - mas não do passado
Era de época
Era da fantasia.
Era em que as mãos tinham olhos
E tardavam em ressaca.

Não seria a primeira vez que me enganava
Mas talvez a última.
Tudo mudou
O filme acabou e os olhos demoraram a se encher
D'alma.

Mesmo que eu dancasse ao som de jazz
Sob um céu estrelado
Meus pés ainda estariam fartos
De caminhos tortuosos,
De promessas não cumpridas serem mais relevantes que as não feitas
Porém válidas.

É verão
E a calçada queima.
O suor sob meu rosto não é só meu
É a onda salgada
Puxando para o oceano
...
Pacífico.

( e talvez tudo seja entendido errado.Tudo e um pouco mais porque tudo acontece junto, mas nem todos permanecem juntos.)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Realeza, realidade e realizações

Era uma vez uma princesa que usava um longo e volumoso vestido azul, ainda mais volumoso quando ela rodopiava pelo salão de festas imaginando sua grande noite. A princesa muito foi mantida longe das rocas de fiar, de tanto que dormiu uma vez, assim como os sapatos de cristal não eram opção junto de seu vestido azul. Vestido esse que começara a encolher e soltar sua cor na princesa - mas ela não se importava, já que muito gostava daquela cor.
A princesa azul não conseguia facilmente agora tirar seu vestido, mas a ajuda apareceu. A princesa arrancou logo sua tiara e mergulhou em águas rasas de um inverno em estação errada, de cor quase mais branca do que era sua pele. Uma luz acordou a princesa de seu devaneio durante banquete de sua noite. A sobremesa faltara.
Cheia de graça ela cruzou o salão em busca de um açúcar mais doce que suas visões, em vão. Achou um morango e espetou-o com uma faca de prata. Sozinha em uma mesa ela degustou a fruta e fechou os olhos em sono eterno.
Nem adormecida, nem gata borralheira, a princesa azul não sabia ainda qual era sua história, assim sentia no mais profundo de seus tons que o céu estrelado agia sobre ela.
Ela muito gostava de ser azul, como a água e o céu que regam; mas só a Lua prateada como a faca que levara à boca podia andar ante os dois.