sexta-feira, 26 de junho de 2015

Comemorações antecipadas

Quantas luas se passaram desde a última vez
que meus dedos pegaram uma pena para desenhar lapises por letras?
Vou os achando, escritos, pergaminhos velhos e contrastantes.

Apenas a velha expressão de surpresa
com indagações
e revelações feitas por mim mesma.
No final,
as mudanças transitam
e não terminam as sentenças que

Opia

Há muita areia na praia
assim como o óbvio em canetas vazias.
O vento traz a areia, entrando nos olhos de quem os fecha
em sinal de respeito
ou apreciação.

Anonimato em ruas estranhas, de pedras são
as pessoas e calçadas.
Fontes em meio a jardins
flores bonitas, sem miolos gritantes e caules indignos;
a chuva que rega
só cai quando sente sede.

Leituras ininterruptas
como batom vermelho nos lábios durante toda a noite.
Rostos limpos não conquistam o interesse:
aqueles que com muita facilidade prosam
não devem saber olhar pela escuridão.

Meias palavras e goles de mar doce
são propostas de falas ainda não elaboradas.
Podem ser desnecessárias,
mas aquele quem escreve fecha a boca e
abre as mãos:
recebe amanheceres.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Trilha do vazio

Harmonias riscadas e desconfiguradas em final de festa.
Blues e jazz, gritos e estalos
um ardor no peito atingido pelas batidas do relógio.

O caos não tinha poder suficiente contra uma alma faminta.
Uma poesia amarga na boca
e coerente na veia.
Perante o silêncio, escondia pronuncias
deixadas para serem reveladas, quem sabe,
em outros sonhos desacordados das manhãs.

Nem sal, nem açúcar:
Água.
Movimentos de líquido e cachoeira entre o sedento,
o seco e a garganta cortante.
Eram tempos sem chuva
pois as tempestades inundavam de dentro para fora
em um eterno devir de continuidade.

Entre lençóis e cobertas
o frio e as ideias brotavam do teto,
desabando cada vez mais
até atingir o corpo repousado.
Uma vez atingido, adormece em sons de sopro
para acordar em dias de realidade.

Todas as noites se mostravam indiferentes
quanto a impessoalidade demonstrada sobre o que olhos escuros vêm.
A prece tem de ser diária, diário;
não escrita por gosto
mas rabiscada por desespero.

Por fim ou fome,
deve-se concluir
pois as palavras sabem a hora de fugir:
instantes antes de tornarem-se armas
de fogo
água
ou saliva.



terça-feira, 23 de junho de 2015

Dedos trêmulos

Uma vez odiada, a fumaça agora vislumbrava colorida
entre os pulmões ditos de referência.
Escurecia e tornava-se nuvens
cujo Sol
não vive nas noites.

Era uma memória recente e agradável
assim como a facilidade encontrada em continuar o bordado de palavras...
possivelmente porque são o mesmo.

Traga
da
melhor composição de
luzes evaporadas em meio a multidão.
Tantos estranhos vagando sem rumo que
é possível se ver quem não está presente
assim como quem não é passado.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O que acontece quando o veneno é doce e demasiadamente saboroso

Na degustação da saudade, inundou-se
ofegou o ar aquático, melódico
e terreno.

Preparou as cordas e as pendurou no ventilador,
um lindo laço
com rosto de exaustão e sono.

O canto da boca estava sujo
cheio de alegrias e expectativas realizadas,
de nostalgia fria
e músicas recorrentes à memória pagã.

Como cordão ou presente dado
em volta do pescoço, calou a voz agora rouca
ao chutar a cadeira de palitos de sorvete.
No maior ato de coragem
transgrediu a imaginação

E ...cometeu amor.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Descrição de uma obra

Poesia
é rima, é rabisco no chão, flores bonitas no quintal.
É ânsia eterna, despejada ao mundo
transbordada da alma.
Não se grita
ela é dita baixinho, sussurrada para aliviar os dizeres
borrados de batom vermelho
vulgar ou não,
dependente da necessidade
do vocabulário.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Inconclusão

O rosto rente às paredes de tijolos transpareciam entre as janelas,
tantos nomes sumidos e recuperados
tantos termos e pés e fôlego e goles.

A cada vez que cruzava a porta tinha mais certeza de que deveria estar lá,
do porque está lá.
De versos igualmente não rimados gerou o filho
faminto por poesia, alérgico à prosa
devorou a genitora enquanto pôde.
Depois foi guardado na gaveta, na espera que os ponteiros o tornassem visual.

O contorno é uma linha tênue
entre seu desejo de multidão
e a escolha do estar só.
Aprendeu argumentar, escrever e dialogar discussões
discursos incontestáveis!
A narração de uma alma autosuficiente chamada de contradição.

Um juramento de versar apenas para si
e para a natureza era a deixa para as andorinhas voassem
longe dos céus vermelhos
a contar ao Sol, disposto a tornar o mais belo dia
para que mudasse de ideia.
Conservava-a, sim.Era forte -
mas não eterna.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Deixa o cabelo cair no rosto

Sou canceriana e não há o que mude isto.
Os astros podem prorrogar a permanência sobre a luz
mas há sempre um canto mal iluminado...
Referente àquilo que deve-se sucumbir.

Deixando a música mais alta ao ver
os postes fracos deitarem luz nos restritos.

A cada dia enganava mais a si mesmo,
na espera do bem maior.
A cada noite aceitava mais o futuro que escolheu
o que não poderia ser apagado:
Pureza.
Não a palavra propriamente dita,
no sentido verossímil ,
mas na pureza de si próprio,
na não deixa alheia de interferência.

Acreditava piamente na perfeição
e fazia das pequenas coisas donos dela,
como se novamente a fuga da realidade
em goles feitos apenas para o acesso
fosse possível.Sabia que não.

Um sorriso triste no rosto
de olhos molhados implorando para que não derramassem.
Haviam ainda muitas oportunidades para que vessem o choro
assim como as vírgulas
metidas no meio das coxas.

Luz ambiente, câmera na mão
e acidez na fala tremida.
Seu maior agrado a si mesma era a comoção de sua pluralidade
mas não sabia mais onde guardava esses tantos nomes.
Em uma gaveta , claramente escura
cheia de concordâncias e adjetivos!
Segredos sobrevivem na boca de quem é contado
apenas quando esta é mantida longe -
longe de quê ?

Tornou-se vulgar, cuspindo incertezas de realidades que não a pertenciam,
de datas jamais manifestantes.
Queria moedas de ouro
para jogar em frente ao Sol
e rapidamente cegar seus próprios olhos
de uma vez por todas.