sexta-feira, 24 de abril de 2020

Abstinência

Minha casca e sementes se desmancham ao amanhecer
depois que os sonhos das noites passadas se apagam
E o laranja do céu por algum motivo
entre memórias distorcidas ou não
Faz me sentir assim

Às saudades eu digo basta
já que hoje minha redoma não é de sabão
mas como bolhas e calos nos pés
De tanto andar de volta àquele lugar.

Até as músicas de outra era recortam dessa revista velha
Guardada na cabeceira da minha cama
Em que releio as noticias antigas
E reconfortam as de agora, lá fora

E cada giro que vira noite e dia
E eu viro as madrugadas em vão
A cada vez mais, menos sentido há em se deliciar na tontura, tortura
de rodopios infinitos
Tal como redemoinho querendo dançar.

Mas redemoinhos não dançam
E eu não me canso
de pensar
- que esse giro talvez me leve de volta
Ao início
Invés de ser o meu fim.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Inefável

Bem no fundo da minha cama
Bem no ponto em que me afogo
Me afaga um caminho
pra tudo que me faz, fato e tato
Em pedaços do meu todo
Riso e modo.

Às vezes há muito de mim
E inundo-me
Unindo-me a mim
Sem ser redundância
Ou mesmo incoerência de se afundar para levantar.

Do verso da cama

A minha versão assim, de mim
é tensão lida
De uma gramática torta, mas às vezes engraçada
na ponta da minha língua
Perdida em versões e versos e verões
Aliterações e alterações na bula
Que mais soa como lâmpada.

Mágica ou de luz,
desde que em minhas mãos.