quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O que o diário não quer cuspir

Os deuses gritam pelos céus
Os raios e relâmpagos acordam os olhos caídos
E ascendem aos abertos.

Como se a estrada não soubesse de seu fim,
Continua tortuosa
Molhada em lágrimas e prazeres.
O meu violino corta o ar
As rimas
E os lábios de quem se determina em negar.

Muitas foram as palavras mortas
E nunca mais pronunciadas quando mais requeridas,
Nos suspiros de onomatopeias
Secos da chuva.
As palavras foram aposentadas
Pois perderam seu valor em um verão tão escaldante,
Não foram capazes
E a incapacidade leva a essa quebra de promessas:
Eu jurei nunca mais escrever em primeira pessoa
Jurei que as linhas saberiam de quem são,
Mas não basta.

Não bastante,  Jurei mais
Jurei ao único quem não deveria: eu.
Torturei-me em lençóis
Em pesadelos
De inúmeras ovelhas saltitando
Para voltar a calmaria - que não quero.
/
E tu,  leitor
Realmente sabes o que fazes aqui?
Lendo os pensamentos e devaneios de uma flor perdida
Uma Rosa azul à espera de uma entrega.
Ah,  leitor
Se soubesses como é relevante
Sendo ou não alvo dos pensamentos,
Dizendo ser Verde minhas folhas
Ou azuis.

Diante das situações,
Do desespero e do suicídio
Eu deveria saber
Que quando a carta está escrita
Com o adeus
É preciso se jogar
E saber da profundidade das águas.
...
Não,  Não é a morte
É o que a faz esquecer.
Mas tu,  oh leitor
Já deverias saber
Que quando a escrita é longa e comparativa
Já é tarde demais.
Eu já deveria saber
Que quando assumo eu lírico
E faço declarações
Já é noite demais
E eu tenho medo da Luz da madrugada.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Colheita

Não querer perder o que não se tem
ou não ser perdida
quando nunca foi achada.

O fim torna a parecer receio
porque, os novos temores deixaram de ser futuro
agora apenas são aguardo.

Sempre disse que saberia quando encontrasse o que procurava
/preocupava.
O tempo é uma questão
que todos queremos responder
e perdemo-nos nele
em caracóis
mas não amigos.

São tantas linhas sobre achar e perder
tantas palavras vítimas que não conseguem depor,
filtram-se em si mesmas.
Sem hierarquia
o que se herda, de vidas passadas
é o consentimento
próprio.

Os rifs coordenam o corpo
invadindo-o
como onda de areia em tempestade noturna.

Gostava das palavras sóbrias
alinhadas e pensadas.
Não as tinha mais e, talvez,
nem mais o controle.
A fuga é a busca de toda uma vida
o esquecimento da sombra
na cegueira da lua
- porque, afinal
a luz do dia não engrandece as madrugadas.

Vinde,
em tempo certo e inocente.
As asas estão prontas:
cera e penas, como as de Ícaro,
Extremas ao chão
como ao céu
da boca.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Constância

Ainda restam em mim alguns espasmos
detalhes que acordam no meio da noite
e perduram na madrugada.

O silêncio e verde das árvores em meio ao concreto
que não previa
em vidas ou tempos passados
que uma caminhada responderia por tanto.

Virou uma metáfora
e alvo dos próprios receios.
Virou eu lírico falando de si
na terceira pessoa.

Direto à direita
mesmo sem saber qual dos lados eram.

O espelho ainda concordava
que era uma só pessoa, por hora.
A língua travada em vozes esquecidas
é tudo
que a memória fotográfica não consegue ser.

Quando os pés param
e a garganta seca,
o corpo pode temer o desmaio
antes mesmo de maio
ou o próximo dia dez.