quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Encosto: dedos nas costas

O que essas visões tendem a ser
Além de uma invocação da mente,
Retorno de espíritos
Com correntes nos pés -
E soam alto
Arrastam-se pelas vértebras da coluna
Até a espinha picar
Em arrepio.

Assombrações passam a existir
Dentro de todo quarto fechado com chave
Livre para se ver vultos,
Voltas
E revoltas.

Como pode ser fantasma
Se nunca morreu?
Se nunca viveu?
...
As paredes se dissovem
São atravessadas
Para perseguir
E não seguir.

Se a vela ousar ser acesa
A chama devorará quem segura o fósforo,
Quem clamou chamas de fogo debaixo da banheira :
É afogado
em
fagulhas.

domingo, 20 de novembro de 2016

A Ceia

Se o oráculo e a bola de cristal não mentiram
Antes que o ano acabe, acabo.
E a dor toma meu peito
Alastra do lado do coração
E transforma cada riso em lamentação.

Parece uma poesia triste
Daquelas de madrugada cheias de trabalho para fazer
E entupidas de café.
Mas já deveria saber
Que não bebo café.

O fim de ano sempre foi uma alegria imensurável
Uma gramática perfeita
Em que a correria pode sim
Agradar ao ansioso.
E com ela essas dores
Sentimentos de que cada noite é mais próxima da outra
E mais gritantes da minha.

Cada pôr do Sol promete uma nova Lua
A maior de todas
Que sangra no escuro das estrelas,
E até que ela cresce
Como uma bexiga de aniversário
Prestes
A
Estourar.

Quero os doces que caem sobre meus pés
Come-Los antes que virem ontem
Lamber os dedos
E limpa-los na roupa
Que vai para o chão
Ser desp(ed)ida.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Abracadabra

Engraçado como o meu equilíbrio soube dividir as pernas
Em uma haste de circo
Bombeiro
Ou strip
Com a gravidade.

Já fui aluna de malabarista, equilibrista de meio fio
Domadores de leão,
Mas
Fui para dentro da cartola
Fingida de coelhinha da Playboy
Revelada em mágica.
Se enquanto os lábios se movem não presta atenção
Nem nestes nem nos olhos,
O truque atravessa os seus.

Já cerrei gente no meio
- e não fiz voltar -
Tranquei-me em caixa de vidro transbordando lágrimas,
Tirei as cartas da manga
E desapareci
Fui parar no picadeiro
Onde nenhum problema poderia me achar.

Diante de uma plateia com fedor de pipoca
Criei o pior tipo de cenário
Fechado às chaves da verdade:
2016 espelhos e nenhum reflexo.
Eu já não tenho sombra ou corpo
Não sou mais uma mágica
Tornei-me magia.