domingo, 15 de dezembro de 2019

Sei que não te disse

Há noites que meus sonhos se repetem
Entre tramas e locais diferentes
Sombras e cores
Uma única constância e certeza,
Uma única voz.

A minha cama eu já mudei muitas vezes de lugar
pintei a parede
cortei o cabelo,
Mas as costas ainda doem 
imploram pela mensagem 
Massagem
Passagem 
Pra além do que eu possa ser.

Há dias em que os ventos se reunem assim, sem me avisar
Sem deixar de levar as folhas pra longe
em terra vermelha, pele roxa e marcada
e me leva, me lava
pra longe de onde eu posso estar.
de onde eu queria estar
de onde eu preciso.

A flor matinal do leste sumiu,
o céu de primavera se acabou
a musa celestial morreu.

E todas as palavras que eu escrevo acabam sendo iguais
descartaveis como eu bem sei e sou.
Chega dessa dor.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

A conexão entre seus olhos e os meus

A Lua se abre no meu peito
cheia
Alastra as nuvens sem pedir licença
e ilumina todo o caminho pra casa.
Queria poder te mostrar
como era antes, tudo que as estrelas sabem
e guardam para si
sobre as asas que dentro se debatem.

A minha pele sente falta
do inverno e do suor
de todo arrepio que as noites podiam trazer
antes de tudo
antes de nada,
antes.

Agora
todas os pedaços da linha que caem sobre mim
tão vermelha quanto  poderia ser
ou jamais foi.
Tudo que é incompleto, busca seu pedaço
parte, divisão, metade
ao todo
tudo
tanto - tanto faz
se o tempo for fazer sua parte
e reencontrar as horas exatas
nas linhas tortas dos meus rascunhos.

Pinto e escrevo com caneta
nomes que possam ser,
palavras que se encaixem no espaço apertado
do meu abraço vazio.
As sombras dançam apressadas
até que eu caia
da cama
no sono
na real

Não há muito o que falar
ou fazer
que seja permitido neste circulo.
A ponta dos seus dedos procura um caminho iluminado
e a luz tarda a me encontrar
mas há
mesmo que demore
ou não seja a mesma.

Algum dia, nem eu serei a mesma.
mas o coração será.

terça-feira, 16 de julho de 2019

A mim

Fica ate difícil de dormir depois de ler algumas coisas. Coisas, imaterial. Palavras do meu passado pro meu eu de agora, duas versões que demoraram a se encontrar e nunca mais irão. Somos retas que se cruzam em um só ponto com colisão direta, alfinetada firme e dura no coração.
Eu parecia saber que não seria fácil, por mais óbvio que realmente seja ou fosse. Mas consegui conforto nos únicos braços que podem me curar: os meus.


Tudo que me é negado

Eu quero ouvir e poder saber o que acontece. Entender de olhos fechados porque a chuva para exatamente aqui e agora. Porquê tem de chover.
Quero a verdade, as dores que pensam que não suporto. Quero a resposta do que o tempo faz com minha mente nas madrugadas geladas, em pensamentos tempestuosos e distantes- ou nem tanto.
Quero as juras do futuro, mesmo que não exista ou nunca chegue. Quero as certezas que não posso ter, mas preciso ter juradas entre as contas do terço de um local ao outro. Minhas distâncias.
Quero o reflexo dos olhos nos meus, aqui, presentes. Ver e saber que o mundo há de cair, mas ainda há no que acreditar. Quero poder crer, não só para sobreviver, como também para manter o sentido desse caminho. Quero meu sentido. Quero tudo que é sentido. Quero não ter sentido muito por sentir muito.

domingo, 7 de julho de 2019

Depois de tempos com os pés no chão

O tempo age de diferentes formas, mas sempre age. Como as lágrimas em dia santo, inevitavelmente o fogo cessa, até virar apenas queimadas pelo céu, um véu preto sob os olhos.
São muitas estradas e caminhos para chegar em um lugar ainda incerto, infértil. O sol nasce no Sul e se põe no Norte de uma rodovia em reforma. Os pés cansam de andar, rastejar e se arrastarem no asfalto. As pedras estão marcadas na sola, nelas não há água que regue flor alguma. A rosa sozinha em frente à cama que não me pertence fita meus espinhos e repele minha pele no áspero dos lençóis. Essas gotas de orvalho tendem a me queimar, esgotando o frio em meus pés: cada vértice e versículo verde em mim.
Não os cubra com falsas verdades, mesmo que reflexos de expectativas- trincadas no espelho.Não existe corte de vidro no teu olho, eu quem deveria colocar os óculos, chorar o que os pulsos não têm permissão de rasgar- e rasgar.
Tuas palavras me doem sem disfarces de metáforas e sem medidas.
Nada aflige mais que as mãos tentando alcançar o que já perderam.

domingo, 17 de março de 2019

Noites sem Lua

Ando procurando a linha das borboletas
Enquanto caminho ante a boca dos sapos e gatos,
Fatos contra minhas razões.
Havia muito mais do que eu vinha rabiscando na minha pele
mais do que rascunhos tortos e apagados
mais do que os olhos se forçam a ver:
Mais.
Mas, é claro,
Aqui é escuro
e por trás da tranca eu me rego
e me rendo à situação atual.

Os pontos e ponta da agulha não se importam
e perfumam
Ao fechar os olhos.
...
O silêncio absoluto e o gosto amargo na minha boca.
A luz que entra no quarto no meio da madrugada.
As batidas disparadas ao som da espada.
...
Fazia tempo que não chovia
E toda gota que cai não afaga, afoga
Uma atrás da outra
No fundo da garganta
até o corpo se entorpecer embriagado
Obrigado a dormir.

É cedo demais para acordar
E muito tarde para levantar da cama.

B² 

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Fratura ou Estrela Cadente

Havia listras demais naquela sala
E o mal estar que escorria pelos olhos
Sem conseguir fitar os outros
Contornava as linhas paralelas
Que jamais se encontrarão.

É evidente quando algo se rompe
Desde um fio do tapete
Aos ossos
ou a plenitude que boiava na agua quente
Como pronta para ser quebrada e comida
Sem modos, só medos.

Uma situação recorrente
de correntezas de puras paranoias
e dores
Porém de cuidados precisos
Preciosos nas pontas dos dedos juntos
Das palavras que abraçam antes do corpo, mas também este.

...

Depois de palavras expelidas raspando pelas paredes,
o vento seca a chuva insistente em todo verão
Em toda estação incerta que as flores voltam a se abrir
e quebrar calçadas sob pés descalços
Dispostos na madrugada quente,
Dispostos a por-se como estrelas, uma na frente do outra 
Até um nova caída .

B²

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

X.

A madrugada evoca certas ideias
que serpenteiam entre as pinceladas da aquarela ante a água suja dos pincéis.

Acorda com um beijo envolvente em onomatopeias de vogais inifinitas
nas costas riscadas que seguem o azul do oceano
até o outro lado
em que é plantada a dor de um sorriso que nasce e quer viver para sempre.

As cores se dissipam no papel rente aos dedos precisos e pontuais
carimbados no salto repentino, porém já esperado
em uma noite escura e sozinha
e só desbotada pois é necessário dormir
E
Quem sabe
sonhar e acordar com a Lua Cheia e o pincel entre os dedos a matar:
findar o belo e assim brindar harmonia
na violência.

A morte de um grito ardido para dentro
Pode se igualar e ser tão boa quanto,
Quem sabe 
Quem sabe seja
E o agora seja privamento e as madrugadas estejam certas
De todos os castigos e chicoteadas que findam 
Ao se escolher toma-los.

B²