quarta-feira, 28 de junho de 2017

Inverno

Várias vezes escrevi e apaguei
Apaguei e reescrevi
Recomecei
Para voltar ao início de uma história sem fim.

Eis que eu ando mentindo
Incansavelmente
E até as minhas mentiras contam mentiras
E perdem a conta.
As linhas cruzadas e mal costuradas na minha pele não querem sair
Não querem ser curadas
Ou esquecidas
Não querem se tornar lembranças
Ou passado.

Eis que a memória é imperdoável
E a dor inflamada não conhece cicatrizante
Ou agulha que realmente fira
Fure
E fuja.

O frio vem enferrujando as palavras
E cobrindo o morcego com mil cobertores e dores
De um corpo prazeroso em sofrer.
...
Mas das mentiras descobertas
As que me descobrem no meio da noite
Inconsistem ante ao lado direito da minha cama.
Ignoro a parede e viro-me ante ela
De movimento ensaiado ja apresentado aquela vez
Amanhecido de sonho
No passado perfeito
- cuja gramática dispensa ser ignorada
Da língua entre os dentes
E a rima.

- mesmo que tudo mude, minha mudez grita riscando as paredes silenciosas e ensurdecidas -