segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O que permanece

Quando pequena
Antes das longas pernas crescerem
E tornarem a visão falha,
Pegava os confetes
Um a um
Do chão.

Era um contentamento com o pouco,
Resquício amassado de ontem, de outrém.
Coisas que crianças fazem sem saber.

Nem todo confete é Carnaval
Mas todos são papel rasgado.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Vazio

Vá.

É um salto aos braços do precipício
Queda longa, pertinente: silenciosa.
O que há de escuro em todas as noites mal educadas
Vive na carcaça
Junto à pele.

Um disco riscado
Arranhado pelas unhas
E garras
Em sonho em que (me) agarra
Antes que o lençol caísse ao chão -
Ou o despertador de fato despertasse a dor.

As glórias ão de ferir.
E todas as sentenças gramaticais
Tornarão-se judiciais,
De conversa desinteressante e vaga.
A poesia está fadada,sim
Pois as fadas não conseguem mais voar.

Promessas não são eternas, têm seu tempo dado-
Dados à mesa.
Que eu possa tirar um número alto
E as casas me levem aos olhos
Que insisto em mirar
Como o suicida que mira o asfalto diante da Ponte.
...
É o precipício com que tenho que me contentar
Que aprendi quando pequena a diferença
Mais fácil de escrever do que lidar
Da Ponte com sua água
Do viAdu(L)to.

Nem toda certeza escrita em parede sobrevive.

B² 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

De cartola e bengala

Noite passada sonhei com meu amor
Senti em mais um dos pesadelos decorrentes
Correnteza de rio-sem riso.

O Branco da tinta se esvaia antes de chegar pela ponta dos dedos ao rosto
O cabelo caia
E as luvas saltavam das mãos.
Não era mais quem queria ser
Não era mais a mim.
...
Um atraso e uma falta tornou-o(me) resto,
Tristeza de escritor mal resolvido
De adolescente que nega ilusão.

Em sua pele senti-o ser
E a garantia de felicidade variava
Entre os aplausos de uma plateia inexistente e uma
Plateia de sonho, figurantes de uma mente mentirosa.

Que deleite seria não ver os buracos e rasgos da terra -
Mas os olhos sempre foram grandes demais.

Ainda acordada o não saber
O sem explicação
A exploração
Na memória infiel e dizimista.
As vidas passadas muito devem ter pecado
Pois o tempo não tem piedade
E a misericórdia transpoe-se ao vazio.