Houve um dia em que a matéria prima de terceiro grau
em uma ou três aulas de química
era o burburinho de fundo da minha escrita, e,
como quem dorme com a tv ligada, eu desligava o mundo
e o reescrevia com tinta azul
Hoje, mesmo sob o maior dos silêncios e maior das luas, eu tremo a caneta, eu temo o teclado
e o que me era diário virou lembrança - mas esta metalinguagem se prova contrária
Há dias, momentos e visões que me tiram dessa inércia e posso esquecer
como se escreve e fazer novamente, posso esquecer
do-mundo-aquecendo-da-panela-no-fogo-das-ruas-escuras-que-nos-observam-do-plano-dos-homens-vis
tudo some e retorna em versos
é espaço de amor ou rimas
- e hoje já não gosto de rimar
Digo que essa corda não cabe em meu pescoço.
As margaridas não mais desbotam desde as datas reafirmadas como votos de um futuro igual:
amor não é matemática
poesia não cabe no seu calendário
(feliz aniversário-não-mais)
Quem sabe isso seja suficiente
A quem interessa ouvir os devaneios do verso do caderno, eu retomo
ligo e desligo o rádio, a tv, a notícia que já nos matou e em alguma estação consiga
relembrar quem fomos e reescrever quem somos
mesmo que beire a livro de autoajuda, remédio controlado
descontrole remediado
e consonância involuntária
B²