sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Ainda sou poeta?

Houve um dia em que a matéria prima de terceiro grau 

em uma ou três aulas de química 

era o burburinho de fundo da minha escrita, e, 

como quem dorme com a tv ligada, eu desligava o mundo 

e o reescrevia com tinta azul 


Hoje, mesmo sob o maior dos silêncios e maior das luas, eu tremo a caneta, eu temo o teclado 

e o que me era diário virou lembrança - mas esta metalinguagem se prova contrária 


Há dias, momentos e visões que me tiram dessa inércia e posso esquecer 

como se escreve e fazer novamente, posso esquecer 

do-mundo-aquecendo-da-panela-no-fogo-das-ruas-escuras-que-nos-observam-do-plano-dos-homens-vis

tudo some e retorna em versos 

é espaço de amor ou rimas 

- e hoje já não gosto de rimar 


Digo que essa corda não cabe em meu pescoço. 

As margaridas não mais desbotam desde as datas reafirmadas como votos de um futuro igual: 

amor não é matemática 

poesia não cabe no seu calendário 

(feliz aniversário-não-mais) 


Quem sabe isso seja suficiente 

A quem interessa ouvir os devaneios do verso do caderno, eu retomo 

ligo e desligo o rádio, a tv, a notícia que já nos matou e em alguma estação consiga 

relembrar quem fomos e reescrever quem somos 

mesmo que beire a livro de autoajuda, remédio controlado 

descontrole remediado 

e consonância involuntária