quarta-feira, 29 de julho de 2015

Repetições e corridas

O tempo estava se esgotando
E ela corria
mais rápido do que poderia qualquer um.
A luz do dia já se transformara em pôr do sol
e ela tinha de correr
do uso da primeira pessoa.

Jogada na cama não tinha utilidade,
independentemente se tivesse se jogado
ou se fosse jogada por um terceiro.

Meias coloridas nos tênis novos, desconfortáveis.
O ar, agora vento,
lambia seus cabelos
e violentava seus pés.
Sangravam as fases da Lua.

O local ainda estava longe
e ela acreditava piamente que,
se coresse, cruzaria os mares de semanas
em alguns minutos.

Sem sono.
Era melhor achar algo para comer
ou papel para limpar o suor.
Mas, uma melodia longe atinge o chão
onde por alguma brincadeira da vida
ela está deitada.

Seria um belo fim o atropelamento...
Mas há melhores dias
com chuvas piores.
Entre os ouvidos os tons embalam como no colo
e adormecem.
Como feto fica lá, derramado
e molhado de tudo que já foi escrito em sua pele
mas agora derrete...
Porque a permanência ali
é sentença de corte.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Profissão: Amadorismo

Um fundo vazio
depois de antigas páginas nao-autorais devoradas
com segregação
e abandono.

Amparo para as linhas que sustentavam ainda
os motivos
e palavras complicadas
para viver.

No entanto,
depois da janta desnutrida
e do banho quente
no vapor do banheiro riscava
rascunhos de discursos,
gagos de berço...

Não sabe escrever
ou ler.
Não sabe o teor ou sabor dos dizeres
que saem dos dedos
e não da boca.
Pois os lábios reserva
para ditos que não são seus,
já que só se grita em timbre
o que não rasga a garganta em tinta.

Os dedos estão sujos
e eu também.


sábado, 18 de julho de 2015

Requiem estampado em lenços de papel

Tornou-se uma cachoeira
os braços doiam
a garganta não mais ardia,
não saiam as palavras
apenas o sal
escorrendo entre as grossas lentes do óculos à boca.

Não lembrava mais daquele gosto,
como de tantos outros
Inconsolável
sem fundamento
ou Lua em signos congruentes.

Não conseguia mais tirar as negações das sentenças
ou acalmar-se
Não sabia do que precisava
Não queria dormir
Não queria mais coisa alguma

Dentes doendo
nariz escorrendo
e a dificuldade de terminar
o poema
o nome
a vida
os créditos do filme
e tudo mais
que a vida pusera em sua frente
depois de veneno para animais já mortos.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Desencontros improváveis em corredores largos

As segundas feiras já foram mais felizes
e conseqüentemente, ativas.
Tempos de ponteiros vermelhos
Olhares escuros e noites bem dormidas...
Porque os dias valiam mais.
Elas passavam vagarosamente, de maneiras irrefutáveis
nas formas que o homem decide andar.

Passam-se semanas que tento recordar
como era o sentimento
de ausência de tanto sal escorrendo na boca,
pois era perpétuo,
divino.

Todo animal um dia encontra os seus.
Inspiração e continência agrupada.
Tempos nostalgicos
com novos rostos...
Tempos em que as rimas cogitam retornar,
mas o fim da idade impede.
A espera :
o andar perdido entre as árvores
que não são mais de papel,
dobradas no bolso direito
como segredos um dia cultivados
a mudar o mundo.

O espelho continua sujo
e o reflexo, distante.
Os rabiscos molhados e nenhuma canção alivia as semanas frias
de um coração que deseja o silêncio
enquanto grita desafinado.