quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Entre os dedos

O isqueiro falha
Mas ainda ascende ao cigarro
Posto à boca
Como antigas promessas
E ainda presentes pensamentos.

Aquela música toca
E o controle ameaça com toda força sumir
Entre memórias estarrecedoras.

Um maço não é suficiente para a confissão
Ou cessar o fogo que a fumaça rodeia.
E os pulmões
Que tanto se enchiam de orgulho
Cedem à respiração de desespero
Em manter-se eterna.

Às cinzas volta-se
Na espera das cores
Que desbotaram.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Segredos que fugiram da estante

A força que uma palavra tem
Segredo.
Diferente dos de pacto
Aqueles que transitam no olhar de dois
Na vista de que eu sei
E você também
E somente nós.
Esse ja não é mais.
É  na solidão.

O segredo que é somente meu
Jamais permitirá ser seu.
É um corpo que não divide espaço com outro
É um assassinato
E o morto não tem voz para clamar.

O que não se permite dividir
O que rói o fígado
Em regeneração
É o que a boca não entrega em beijo
E as mãos não escrevem em toque.

É o infinito
Pois pode ser qualquer coisa
Assim sendo
Tudo
Menos seu
Menos sua.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A Praia dos ciganos

Aqui acima as luzes piscam
E a oscilação é alerta,
Recado que já foi jogado no mar
E Salgado entre os olhos de quem se afoga.

O que o médico diz
De sonhos perversos
Em contos infantis?
O balanço vem e vai
Como a maré
O a.mar que derruba quem sabe nada.r.

O passar das noites distintas
Cheia à nova
Em fotografias que já começam a desbotar
E perder o tom de conchas
Ou misticidade de ser areia.

As águas que afagam são as mesmas a tirar o sangue das mãos
E transpor a inocência de volta aos imaculados.
Que a maré derrame a semana
E banhe devagar os pés
Para saberem em que terra pisam.

As pérolas esperam sua vez
E suspiram aos pescoços que se molham
Como se soubessem
Que cada gota ali
É lágrima curada
Em oferendas sinceras.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Entardecer

Os pneus parecem saber
De cada acorde e vibração
Transcorrida das cordas da madeiras
Às vocais.
Cheias de vogais
Os chamamentos vêem
Cegos em noite de artificios:
Fogos e pessoas.

Toda mulher muda há de gritar
E tornar-se flor.
As lágrimas regam
E rezam todas as ave marias do terço
Que uma terça feira poderá trazer.

Então
Entre cadeiras a cadeia termina,
A dança de São João
Que um corre atrás de outro que corre atrás de outro que corre
Que corre.

A primeira aparição dos santos nas linhas
Não é teor d'dízimo
É milagre esperando saber
Da ciência.

A flor continuará azul
Quando souber que já é fruto?

...

Voltamos à viagem
E os pneus sonhados de cavalos galopando a estrada.
Os golpes que o corpo leva
Entre lombadas e vice presidentes
Doura-o
Como estátua
Ou medalha frente ao peito.
.
Vinde as graças aos que apanham e morrem de amor
Aos que fazem de seus dizeres Pátria
E cantam como hino
As juras de nunca-mais.

As flores até o último dos dias
Em cemitério
Na primeira das noites.