domingo, 17 de maio de 2020

Não é bem assim

Me falaram que antes era ao contrário
Eu lá, eles cá
mas não desta forma.
São três da manhã em algum lugar de mim
que enche luvas descartáveis como balões
Anunciando uma festa que nunca acontecerá
Em devido canto de janela envolto na cortina esperando
os convidados que nunca vão chegar
com coração palpitante na garganta
e todo um roteiro pronto na cabeça:
De, quem sabe, as coisas acontecem diferente,
E pela porta entra, sem bater, como filme clichê, na sala de estar
na platéia ou qualquer lugar
E bem na minha frente o tempo para.
Pra nunca mais
Ou pra sempre.

Em data específica, ou não, os números continuam os mesmos
Ou piores, pro meu lado
Tendenciosos a se acumular em cima do meu cobertor
Tornando denso e pesado
Impossível de se levantar ao soar do sino
Ou dos sorrisos distantes.

Eu vou embora
De volta pro começo, mesmo com meio diferente
Indiferente à mim.
Eu vou embora
Pro quarto em que risquei minha morte
E jurei não voltar
Vou andar
Pelas ruas que odeio
Em que nem se pode andar sem rumo,
Todos os caminhos aqui sei de cor
Pois terminam no canto da caixa,
na casa no centro de janela bonita
E 17 na urna.
Eu vou embora
Porque nem lá é meu lugar
E ainda custarei saber aonde é.