sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Arranhão

E iniciamos assim
Com conjunções sem nomeação
Assim como o recente fio que percorre o corpo
Tentando brilhar.

Um felino
Que não fica contente ao ver o dono com visitas
Que não fica contente com sua posição de condicional, compra.
E lentamente vai
Percorrendo os lençóis e almofadas
Para mais a frente cruzar uma pata frente a outra
Rente aos tecidos que roçam no pêlo,
Engatinha para os braços da morte
Acreditando ter mais vidas.

O peito estirado nesse chão de algodão e cetim
Com olhos amarelos que cerram seu destinatário
Sem pressa de ser carta lida.
Põe uma pata no peito e outra no ombro
Lambe a face
Pois não encontrou as mãos,
E acha possível dispensar o ronronar
Enquanto sabe a proeza dos dentes caninos.

Não tem fome de carne vermelha
Nem sangue animal,
Apenas a sede dada em boca pelo luar
Que em meia luz ilumina o recinto
Mascarando o tardar da noite
E o mistério que as cabeças queixam
Deitadas sob penas de gansos
Ou melodias antigas.
Todo salgar de lábios que produz palavras no lugar de atos
Torna-se secreto
E apenas visível para quem permite dormir em Espinhos de aço
Para sonhar em canteiros de seda.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

deserto

Suave moldamos nos dedos a espuma das noites
A virtude do sono do Sol
E as palavras que devem ser ditas.

Há muito que pode ser dito
Mas não tanto que deve.
O melhor de ir a algum lugar
É a ida em si
Para provar caramelizado nos dedos dados à boca
O doce e amorfo da distância
Se tornando corrente sanguínea
E dna;
porque
não existe coincidência
entre curvas de impressão digital
e
o não.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Trilha que tina a que tinha

Imóvel podia ver
Um corpo torcido dormindo à luz da Lua,
Cheia,  resplandecente entre a escuridão
E sua magnitude.

O que a Lua quer me dizer?
É fase de totalidade novamente
E a única promessa que neste instante é possível fazer
É
Que a água estará acima de mim
Para,  inundada
Eu me afogue nos conselhos do satélite
Que me d'escreve.

Esta tudo bem,  eu diria
Acabei o livro,  o livro dEla
Como deusa
Pois também os deuses riem dos mortais.

Não faremos oferendas
Preces.
Iremos assim,  com páginas na mão
Tear fogo contra a noite
E em incêndio
Tornar os sonhos possíveis de lembrança
Como tempos astrais.

Sem movê-las
Os novelos lançaram-nas
Atadas e atrasadas
Em relação ao tempo
De relógio
E de chuva.
...
Seus olhos de gato me cegam quando iluminados
Não posso mais saber qual direção tomar
A do filme
Do volante
Ou da taça que me aguarda.

Cada esquina de terra pede para ser escrita e solucionada
Em mistérios de histórias criminais,
Naquelas em que tocar o chão
Não é recomendável
Mas necessário para aqueles que almejam o céu
Seu.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Finda

Superlotação no quarto que já foi Branco, hoje transparente
Feito de vidro
E bolhas de sabão.
A grossura das lentes afirmam problemas oculares
Em não ver o que está no fundo da estrada
Ou no canto do cômodo.

Incomodo
Não vê as próprias pernas
E os braços puxam corpos desconhecidos
Como os que impede de andar.

É muita gente
Cada um representando um sentimento
Dentro do corpo,  quarto.
Você anda tentando organizar
Ou simplesmente saber o que acontece
Mas o masoquismo lhe derruba
E torna um pisoteio
Quase tiroteio
Sem ti,  roteiro.

Todos são expulsos.
E o que era confusão por muito
Agora é crise existencial em vazio.
Música alta e dizeres antigos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Retrocessos

Gire o ponteiro
E voltemos no tempo,
Quando a vida começara a se tornar.
Movimentos circulares na Palma da mão
E voltamos a um começo de ano,
Mais de mil e trezentas noites atrás.

Dia.
Eu posso vê-lo,
Mas não sei se ao certo ouvi.

Na fenda que o tempo se esconde
As memórias permanecem firmes,
Assim como as questões antigas
Que ainda não foram respondidas.

Talvez fosse o timbre da voz que tenha engolido as palavras
E não permitido a digestão...
Não sei
E talvez nunca saiba.

Vamos falar de termos
E ternos.
Termos ternos,  engravatados.
Temos os termos tirados da traqueia à tragédia.

Aliteração.
Qual seria a diferença entre então
Entre paixão e amor?
Conhecemos primeiro Platão,  Que amaldiçoou sua paixão
E minha vida.
...
Até,  quem diria
Freud,  ante Nietzsche
Contornar as causas
E prever as consequências.

Falamos de passado
Com o impessoal
E atemporal nó borboleta:
Voava os olhos entre seus botões
Até acordar
De um pesadelo mais leve que a realidade.

Descrições brutas
Uh! Que vida cruel!
Tantas as vezes que a poesia se manifesta
Na necessidade
( pois é o que é )
Da sinceridade em linha torta
Que bêbada
Ri-má

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Difícil nomear

O som do francês em meus ouvidos
Rasgam minhas roupas
Até poder chamá-las de trapos.

Meu sapato de cristal é pontiagudo
E corta não só o pé como o resto de audição.

Então vamos decorar a tradução
Da música
E dos sinais confusos,
De um quase
Que possivelmente foi escrito em francês pois não é de tão fácil compreensão,  embora subentendido.

Eu sei dos anos que as vozes carregam pelos fones de ouvido
E não quero calar a minha,
Nem grita-la
Desafinada.

Serei ladra
Para cantar e dançar com os ciganos
As letras de poetas assumidos
E,  roubar da Catedral de notre Dame
Suas metáforas:
Torna-me-ei outro personagem
Fadada a viver com as flores que os homens trazem
Para conhecer meu jardim.

Vamos chorar.
O tormento dentro de mim,  As borboletas
Sempre foram morcegos mal-compreendidos
Como os estrangeiros em Paris
Fugitivos e leitores de mãos.
Chega!
Pois chego ao meu limite
Da semana
Do tato
E,  inevitavelmente, 
Da canção.

domingo, 18 de outubro de 2015

Verão: verbo e substantivo

Sou um artista de rua que sonha
sonhos dentro de sonhos
e acorda confuso, incrédulo.

Quão mais fundo plantamo-nos em sonhos,
pior será a colheita, mais induzida à terra.
Fim de ano e começo de estação:
Época de caos.

Os nomes que nos damos para fugir
nas músicas tocadas alto
de baixo.

Escorremos maquiagem e torcemos cabelo,
sentimos as mãos sem olhá-las
e saber da realidade, tudo sabem.

Um poema escrito na necessidade
no choro desesperado do passado com medo de futuro.

Parte um : passado.

Um ano atrás, os nomes dados e concebidos
são repensados em adoção ou aborto.
Um ano atrás, uma vida feliz
uma história de filme, feliz
e mentida
mudou, mudou tudo.

Parte dois: presente.

Inconsequente, atrasado, deserto e utilizado de muitas referências
Se explicar.
Pois não precisa, não quer.
Rima flores com dores
na suficiência da moeda decidir o

Parte três: futuro.
Não sei, nem amanhã
nem o final da semana.
Sabemos apenas que
nada irá mudar com todas as mudanças
e terei de fazer tudo que adiei,
como encontrar novos adjetivos em livros na cabeceira da cama;
torturar outras linhas
e até pintar as paredes do corpo
mas, oras
o que ainda não viram
nunca virá
verão.



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Contorção

O conceito de certo e errado é destilado em doces
que não conheço o gosto, sabor
mas minha boca se enche d'água.

Vamos girar, como nas canções de roda
até o tempo parar, até o coelho branco virar pó
e todas as vidas se tornem uma só.
E eu fique atordoada
- não importa o que for necessário -
para enfim, desmaiar.

O sangue é doce no fim do mês,
e pode ser bebido em taças de vidro
desde que a seguramos da forma certa.
Alinhe a coluna e vista a máscara,
a capa
e a desordem.

O que será deste peito consumido por si próprio
quando tiver uma estaca cravada nele?
O estado laico irá chorar.

Um pensamento, pior arma
que insisto em apontar contra minha cabeça nas manhãs
e contra o coração nas  noites escuras.
Gire a roleta, a bala foi sortida
e abençoada por meus lábios.
Um dia tudo que hoje resta nas dúvidas há de ter sido respondido
quando o hoje se tornar passado distante, na estante.

Os lábios da língua de fogo agem em círculos
perfeitos
para se virar bailarina e rodopiar
sem derrubar a bebida de uma mão
nem o fecho da outra.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Desmascarando-se

Antes das pedras acentuarem suas cores,  um pedido foi atendido.
Não,  nada disso
Uma forma mais simples e discreta de como o destino age
Por palavras de outros escritos-pessoas
Que tudo vêm
E tudo sabem.

Nenhum rascunho caiu do céu com respostas,
Mas elas vieram
Como que por mágica
De olhos claros que agem em ambos lados.
Uma palavra  (já que não há outro termo que aqui caiba bem) amiga,
Consciente
De que não faz o que não deveria.
Bom,  pelo menos não nas horas erradas. /
Dizemos não ser crianças, mas conservamos essa alma
De ensino fundamental.
É uma era igual àquela,  porém
Mais acentuada
Confusa,  definitivamente,  E
Por anos Luz
Melhor.

Não gosto de falar na primeira pessoa
Porque agora a conheço leitores que decifram dizeres
E em vezes como agora
Ou qualquer outra,
Podem ler onde não há letras
Mesmo havendo.

O poema é meu, sou egoísta.
Falo com ele porque é assim.
Digo:
-Poema,  responda-me
E ele sofre calado.
Por quê?
Ha
E há
(Explicações)
....
Porque
Meu bem,  minhas linhas brancas,
Ele repete o que ja foi dito.
Desde o desdém detido em dedos
À advérbios,  adjuntos,  advérbios e admirações.

Poesia não é filho
Pois sai mas não vai embora,
É fragmento de alma.
Poesia não é escolha,  É necessidade.

E, no fim das estrofes
Esse poema não sabe sobre o que é ou fala
Apenas sabe
Apenas é.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Conflito de personalidades


Quantas vezes sucumbe a cobra
Na culpa da crase.
À lebre,  sinceras palavras de tentativa de consolo:
Corre,  meu bem,  Corre para longe.
Esquece dos teus saltos
E foge para lá das colinas,  para detrás do deserto.
Fique atenta
Pois ela lhe encontrará
E tudo que pode fazer é fugir.

Ela se disfarça de amigo,  de companhia ou duelo que pode ser vencido.
Não seja tola
Como dessas tantas vezes
Em crer nas palavras doutrinárias
E lambuzadas de Mel:
Não molhe seus lábios,
A fala é seu poder.

Chega no sono
E transforma-se em madrugada acesa
Que ascende à luz.
Toma os olhos como dois copos
Em um só gole
Para embriagar as visões de passado e futuro,
intermédio e angústia.

O pior não é como a cobra escreve ou descreve,
o pior é que ela é metáfora,
sim, ela é.
Mas não para alguém que possa atrapalhar, mas para uma lebre
que já foi predadora em vidas passadas.
Não há reflexo teu se não há espelho aqui.

domingo, 4 de outubro de 2015

ReVolta, de volta

Tinha um certo medo de voltar
- diria ' de voltar atrás' se não fosse horrorizada com pleonasmos -
assim como tinha medo de não saber começar a escrita,
então começou de ponta-cabeça
revirando o estômago.

Foram dois atos que teve
os que sempre teve certeza:
início e fim.
Não conhecia o meio
em que estava,
por mais de ser altamente amistoso.

Fez uma oração
e cumpriu a promessa um dia feita
de voltar,
mesmo sendo essa a questão que mais apavorasse.
o passado
e o terror do ser duplo:
Amar ser dois
e, esse amor,
atirar sempre contra um deles.

Antes de tudo, o falso choro se tornou real
e o vazio das poltronas não incomodou
porque viu mais um corpo ali
e este preencheu o vazio
da plateia
e de si.

Um fantasma, uma alucinação
ou o sonho que foi narrado.
Viu.
Elx viu
ela e ele eram um só novamente
e estavam surpresos do quão intenso foi o reencontro
ao verem-se em frente ao espelho
desde a montagem
à finalização.

No entanto
- e, sempre há uma conjunção adversativa -
seu fim foi dispensavel
como se não fosse morte
nem renascimento.

O corpo havia sumido
e junto com ele, o entusiasmo
e a certeza dos passos.
Ele - no masculino-
dá seus passos para frente com certeza
mas os volta
e vai
e volta
dançando na escada como se não pudesse se machucar,
como se sua linha fosse mutável
e digna de nós:
pronome pessoal e substantivo.