segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Rituais e círculos perfeitos

Madrugada
Mas não a dos casais,
A do medo.

Uma mulher atravessa a casa
Com apenas a luz dos olhos
E a roupa de baixo
Com uma tesoura na mão.

Seus passos são silenciosos
Na ponta dos pés limpos
Com os braços aflitos abertos
Preparada para voar.

A maçaneta está a sua espera
Fria e rígida
De madeira ou cristal
À direita ou esquerda.
Morde a mão da moça
E assim seu fôlego e suspiros de dor
Acordam os ares que vinham atrás.

Na pressa,  o som é bem vindo
A porta é aberta
E ela a fecha
Se fecha
Flecha
Escorregando por dentro
Até cair no chão
Joelhos no alto
E mãos a segura-los.

Estava no banheiro cheio de névoa
Com algumas velas vermelhas queimadas e coladas no chão,
Inúmeros palitos de fósforo
E o espelho deitado.

Ousou ver o reflexo:
Agora cria em feitiçaria
Pois era uma bruxa
Que temia ser queimada ali
Pelos pagãos
Por si mesma
Ou por quem saísse do vidro
como evocação.

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