domingo, 16 de agosto de 2015

Pecados no palco

Uma mentirinha ao dizer que não há palavras sobre tal momento.
Há sim, muitas!

A situação em si foi tão desconcertante
que desconcerto aqui
a promessa uma vez que fiz
de parar a prosa.

Aqui, agora, está tudo silencioso. Lá, instantes antes de começar, podia se ouvir as vozes ao tocar a cortina fechada com a cabeça. O cheiro abusivo de neblina é para se dançar, e, quando se for, deitar no chão e observar a luz...Luz que esquenta minhas mãos e beija meu rosto.
Pois bem, as asas cansam os pés.A música começa e inevitavelmente é visto centenas de rostos, virados a nós, comentados por voz que faz chorar. As lágrimas se iniciaram antes mesmo do primeiro sinal mas, lá, na abertura foi o ápice. Rosto escorrido de medo, inconstância e infelicidade do personagem dado, costurado às costas. Eu revivi a ansiedade, as descidas infinitas pelas escadas, o desespero contra o tempo, a finitude e o contato com pessoas que amo.
Quando fecharam meus olhos, cega senti os olhares apavorados voltados a mim. Projetei cada assento do teatro e gritei para as cadeiras vermelhas vazias, preenchidas por pessoas que eu nunca chegue a conhecer; para que ouvissem e acordassem seu interior.
Não foi feito um espetáculo, ou danças ou teatro. Eu sei que ali foi feito poesia, e é isto que toda alma deveria, ao menos uma vez, vivenciar.
A quem viu, agradecimento e gratidão.A quem não viu... o mistério e possibilidade de deixá-los imaginar como foi, pois nenhuma câmera há de capturar em ponto de vista ou plano aberto todas as virtudes e pecados ali admitidos. Ainda que as palavras me façam acreditar que a ausência só é permitida porque assim seria melhor, quem sabe a curiosidade desperte quem dorme.
Haviam tantos detalhes a serem descritos, tantos abraços escorridos de choro e corações pulsantes, tantos nomes e sons, tantas vidas e intrigas que o sono guardou em meus olhos inchados e colocou-me a dormir.  O que não foi contado, por atrevimento ou esquecimento, foi transportado a sonho, sonho que preenche papéis e pétalas de rosas - infelizmente, não azuis.
Não o ultimo, mas a volta do filho à casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário