segunda-feira, 30 de março de 2015

Nuances iluminados

Chove
chove delírios nos olhos.
Abra-os e veja
como jamais foi capaz...
Premonição: as rodas escorregam
o veículo gira três vezes,
como em câmera lenta as gotas
desvendam o desespero de cada passageiro.
E se já soubesse? Se o futuro visse?
No duelo com os deuses
nenhum mortal morre vivo.
O vidro embasa e nele pode agora ser escrito
nome de casais nunca existentes
nunca duradouros...
O calor do escalpo quase alcançava o da cama
só e derretida em dois travesseiros:
mas uma só pessoa deitada.
Podia assim imaginar :
um corpo dilatado e enrolado em lençóis brancos
quarto escuro,
o corpo incapaz de ser visto
- mesmo ele sendo capaz de tudo ver -
e outro corpo
em pé
sem coragem de tocar o colchão.
Observador de estrelas
fotógrafo de canções
e escrita de viajantes.
Entre o desmaiado pueril
e o silencioso de olhos abertos
qual é que
desdenha com as unhas
o pesadelo dos anjos ?
De vidente e vítima todo poeta tem um poço.Pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário